O Trapaceiro

 

Quando se estuda e escreve sobre as relações humanas, suas faces e características, fazem muito bem feito os que buscam o amparo dos estudiosos dessa questão. Quantos não foram e são as grandes mentes, os luminares de seus campos de estudo que discorreram com clareza e robustez sobre os recônditos, os recantos íntimos dos humanos quando eles se valem de todos os diferentes estratagemas, recursos e mecanismos psíquicos e sociais na assunção de seus internalizados anseios e propósitos? Nesta sinóptica digressão, o foco é o tema da trapaça e do trapaceiro, abarcando desde os detentores de magnas funções públicos, aos cidadãos comuns, os círculos domésticos, parentais ou não.

Carl Jung (1875-1961), suíço, foi um desses estudiosos. Psiquiatria e humanista em sua área de pesquisa e descrição, ele se tornou uma referência em muitos aspectos da índole, da personalidade e caráter das pessoas. Nietzsche, outro baluarte nos campos da Filosofia e Psique humana.

Nós, os que militamos nesses estudos e pesquisas, nesse múnus de emitir pareceres e opiniões fundadas na espinha dorsal dessas grandes inteligências aqui citadas, sentimos uma certa comichão, em imaginar se Jung e Nietzsche vivessem nos dias de hoje. Chamemos assim, nesses tempos de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Tempos de golpes consumados e tentados. Consumados como o de uma Venezuela (Nicolás Maduro) e tentado como o de Brasil, com os asseclas e apoiadores de ex presidente Jair Bolsonaro. O que esses luminares disseram, sugerem que foram como uma premonição ou ensaio científico do que temos hoje, nas cenas políticas. Mas, nem tanta novidade porque golpes e golpistas sempre existiram na trajetória humana. No íntimo e nos recônditos intentos, todo governante traz de modo embrionário, um tirano, poucos escapam, uma forma de trapaça oficial. Elegem-se por voto popular, depois viram tiranos.

Carl Jung, por exemplo, descreve as trapaças e as mentes de um trapaceiro. De como se dá os meandros de seus intentos e suas dissimuladas maneiras de enganar, de trapacear, de negacear e explorar o outro e até a si próprio no chamado autoengano. Nietzsche vai na mesma linha, e nesse processo antecedeu o grande psiquiatra aqui citado.

Ao trazer nesse contexto os golpes consumados e tentados, está a se falar desse mecanismo psíquico e intrínseco a muitas mentes humanas. E entra nessa tão humana questão, porque os humanos são capazes desses ardis, a estratégia da trapaça e dos efeitos da manada. Nietzsche foi cáustico nessa descrição: os humanos são animais de manada, “siga o líder”! O mesmo mecanismo de aliciamento ideológico ou doutrinário. Quantos indivíduos possuem uma escolaridade superior, Licenciatura ou Direito, e depois dessa formação cai no nada, no vazio, e o indivíduo segue alguém mentor espiritual, doutrinário, ideológico, sectarismo e religioso. Ser supersticioso, místico e acreditar em fabulações dá muito menos trabalho que pensar, elaborar intelectualmente. Com fundamento em Ciências. Por isto mesmo os charlatões, os curandeiros e gurus (espíritas e/outras doutrinas) fazem sucesso. Viram André, João, Gaspareto.

O certo e bem sabido é que trazendo as questões dos trapaceiros e caloteiros para a vida comum de todos nós, sempre iremos deparar esse tipo social e de caráter, aquele que pratica a chamada antiga “Lei de Gerson”, a de levar vantagem em todas as suas relações sociais. De que forma? Sugando e haurindo os gozos da vida, às expensas de algum néscio ou pacóvio da corte, da casa de orates, do entorno corporativo; mais notadamente dos liames e fraternos familiares. Haverá sempre algum ou alguma ingênua pessoa, fraternal, dócil, gentil, cordata, meiga, fofa ou fofinha, vítima do trapaceiro e golpista social.

Assim, como descritos nos arquétipos ancestrais e sociais pelo notável cientista e psiquiatra Carl Jung, podemos contemplar e constatar os mecanismos camuflados, bem urdidos, bem elaborados, à sorrelfa, dissimuladamente, da chamada empreitada da trapaça, dos autoenganos, do ludibrio, da perfídia. Esses expedientes se dão tanto no macro como no microcosmo social. Seja no âmbito corporativo, profissional e familiar. Encontradiços e cediços. Basta apenas um olhar mais perscrutador e inquiridor.

– Somos capazes de, ao caminhar pelas ruas, desviar sem problema de fezes caninas ou felinas; contudo encontrar fezes humanas é motivo de asco ou distanciamento – Mário Sérgio Cortella.  "Sou humano e nada do que é humano me é estranho" Terêncio-  dramaturgo romano)

 

João Joaquim 

Postagens mais visitadas deste blog

Veteranos Doentes Digitais

Vício e possessão narcoólica >

SER OU ESTAR CARA-DE-PAU