Dependência Emocional
Aristóteles em sua magnifica obra Política, discorreu não apenas a propósito da organização estamental/Estado. Mas, disse também da constituição da Família; “célula máter da sociedade”, nas palavras de Ruy Barbosa. Entretanto, pulemos essa questão maior e dediquemos assunto à chamada Dependência Emocional, que caracteriza muitas pessoas, na ligação que essas tipificadas guardam com os liames genéticos e o legado ético e cultural familiar. Recomenda-se para melhor compreensão, entre outras referências ler o livro “Mulheres que Amam Demais”, de Robin Norwood.
Fazendo um paralelo dos personagens dessa narrativa, fica evidente o quanto da ficção se vê na realidade de muitos indivíduos, que para viver e ter as necessidades básicas de sobrevivência, passam a depender emocional e materialmente de outra pessoa; parental genético ou afetivo. Esses perfis sociais estão à nossa volta. Porque existem. E o vínculo disfuncional vai se estabelecendo ao longo da vida, como uma adicção química ou digital/coadjuvante. Essa é também uma explicação da psicóloga Larissa Fonseca, da Sociedade Brasileira de Psicologia. Queira ver seus posts.
No íntimo e na privacidade as pessoas com esse perfil, trazem internalizados conflitos morais e psíquicos, insegurança de autonomia. Elas carecem sempre de estar, diuturnamente, em contato com quem as possa ouvir, dar palpites e ouvir seus relatos de interpretações de relações sociais com outras pessoas: amigos, parentes, irmãos, colegas, filhos (as) que passam a representar um caso social conflitante para elas/pessoal com dependência emocional.
Para esse relacionamento parental disfuncional, a pessoa acometida da chamada dependência emocional e material, referida pessoa dependente vai buscar quem a possa ouvir, amparar e dar suporte à sua fragilidade moral e pessoal. E essa carência vai sendo realimentada, na medida em que a pessoa apoiadora, cônjuge, parente escolhido, amigo, à medida que essa apoiadora vai representar essa escora psíquica e material para essa pessoa. Um desses sinais se dá na falta de reciprocidade da dependente emocional. Há o seu dia natalício, ela se realiza em receber os mimos e presentes. Mas, não faz o contraponto. Há um efeito de manipulação e de domínio do outro (a).
Na origem dessa condição de dependência emocional de pessoa com outra estão relacionamentos tóxicos, experiência na infância e adolescência com pais drogaditos e alcoólatras, baixa autoestima em uma família com essa propensão, pais de baixo cabedal ético, sociocultural e técnico, etc. Some-se ainda a experiência de rejeição, mesmo indireto de um pai ao filho (a).
Equipe de Psicólogos do Centro Universitário Católico de Quixadá – CE, trabalha bem essas questões e mostram ainda outros aspectos e faces da dependência emocional e material de muitas pessoas. “No âmbito familiar, é comum que um membro da família assuma um papel de cuidador excessivo em relação a um parente doente, debilitado” E vem os desgastes, a desproporção de energia pessoal e material desse (a) cuidador (a) em amparar, de assistir, de prover cuidados elementares de banho, alimentação e higiene.
Enfim, e já quadrando essa resenha, esses tipos de gente e perfis sociais, são por demais encontradiços. O instigante e curioso é o quanto há gente com essas características de extrema dependência de outras para viver. Do outro lado, está alguém que vai se enredando e se emaranhando nas fragilidades, nos maneirismos, no infantilismo desse outro. Na maioria das vezes, nem tanto por fatores genômicos, mas sobretudo corolários de uma educação familiar frouxa, tolerante e extrema proteção com excessos de mimos e suporte material para tudo.
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor