CRIAR FILHOS E CACHORROS
Existem certos entendimentos e funções que nem precisariam ensaios e trabalhos científicos. Dadas as evidências e observações empíricas de sua existência e natureza. Todavia, as Ciências e seus operadores, os cientistas de cada área e especialidade estão por aí em seus laboratórios, suas oficinas de pesquisas e experimentos para que tudo fique bem documentado e bem demonstrado. Em Ciências, há de ser sempre como o foi São Tomé: Ver para crer. Então vamos a esse fato aqui proposto, provado pelas Ciências.
Antes das luzes científicas, o disseram também grandes pensadores como Aristóteles. Agora, há um lado do grande filósofo, cognominado “O Filósofo” (refere-se a Aristóteles) que não coaduna com os tempos de agora. Nossa pós-modernidade. Aristóteles, a História não nega, foi escravagista. Em que pese ter vivido em outros tempos muito diversos do nosso, de nossa modernidade líquida, segundo o filósofo Zigmunt Bauman. Aristóteles dizia que Ética, a boa e velha ética, deve ser ensinada, treinada e repetida com as crianças, os filhos e filhas, para esses pequenos infantes se tornem adultos civilizados e honestos. . Aristóteles escreveu o opúsculo Ética a Nicômaco (Nicômano era filhos de Aristóteles).
O discipulado e acólitos de Aristóteles discorrem em uníssono com seu mestre em afirmar que o processo de doma (“amansamento”, com licença do termo) de um animal irracional comparado com a criação, a instrução e formação integral de uma criança, adolescente e jovem se fazem no mesmo mecanismo, diretrizes e eficácia. É de se ver e constatar que com muita razão e convicção. Por que dessa convicção? Porque está a se administrar, direcionar e quebrantar (amainar) instintos primitivos de qualquer animal. Não é difícil e complexo esse entendimento. Amansar um animal criar e instruir o bicho homem é a mesma coisa. Explica-se:
Uma criança e um potrinho, por exemplo, ao nascimento possuem o mesmo grau de alfabetização, para ser bem exato. Ambos têm cérebro, sinapses, memória de mesmo conteúdo. São analfabetos absolutos, porque nada sabem, nada falam, nada sabem do ambiente que os cerca! Até alguns meses de idade, esses dois animais se equivalem em termos de autonomia (dependência total) e desconhecimento da vida. Que instintos e reflexos trazem essas crias ao nascer? Mitigar a fome, a sede, chorar de fome e sede, de privação de proteção, de cuidados, sugar e excretar. Será que carece de ensaios e ciências para provar essa realidade? Os instintos e reflexos de um recém-nascido humano ou animal são muito parecidos nesses quesitos de sobrevivência.
A propósito estritamente do animal humano. O quanto é marcante, determinante e definitivo o cabedal, os característicos educativos imprimidos a uma filha, a um filho, desde as primícias da vida. O adulto, bem ou mal-educado, a mulher, ou jovem bem ou mal-educados são os resultados do que são pai e mãe, nos mesmos quesitos. São (esses filhos e filhas) em termos éticos e sociais o que receberam de pai e mãe e do entorno parental domiciliar. Há de se ver uma gentlewoman ou um gentleman, ou cascas-grossas conforme foram a insuficiente educação social e ética familiar e a tolerância, a toleima de pai/mãe nos limites aos instintos desses filhos e filhas, ao tratamento privilegiado e principesco dispensados aos filhos, à oferta de futilidades e objetos digitais inúteis, tão prevalentes e prevalecentes nessas famílias, sem o devido preparo na criação e formação de suas proles. Geradas e criadas como se fossem pets, animais de estimação. Nunca é demais lembrar: cachorros e bichos são criados com ração e vacinas, gente se cria com limites, imposição de normas de comportamento, respeito aos integrantes da família, aos mais idosos, aos professores, observância das regras de convivência social etc.
Vamos em tese imaginar, o moço ou aquela jovem já bem madura que chegada como visita sequer sabe bem se comportar como tal. Pouco diálogo, de olho e fixação na telinha do celular e redes sociais; quase não olha no rosto dos anfitriões. Que bem servida em um lanche vespertino seja capaz de retirar copo e talher em que comeu, que deixa sempre, mas sempre como natural e normal sobras de comida nos pratos, que não se comove da anfitriã já idosa ir lavar a louça; e fica conferindo os posts de whatsApp, etc. Então, vem a pergunta: por que ela é assim? Simples, leitor e leitora. Muito provável que essa visita folgada e mal-educada trouxe esse legado da casa dos pais. Tolerância, ausência de limites, baranga-mãe de mau exemplo, tratamento principesco e privilegiado. Não há meio termo e milagre, herança genética e social familiar. Horror!
Costuma ser a chamada geração de filhos e filhas criados (as) com privilégios, que não tiveram as lições mais eficazes na intimidade da família. Que não sequer sabem lavar um tênis, limpar um banheiro por eles emporcalhados, que não organizam os quartos onde dormem. Porque para tudo há sempre de plantão: uma mãe boazinha, uma doméstica, uma irmã mais velha que tudo faz. Geração glass, adolescentes postergados e retardados, em tudo. Em tudo mesmo. Essa nossa geração perdida de moços e moças. Gente bem servida e inservível aos outros mais idosos. Caras-de-pau, malcriados e mal-educados.
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor