Banalização nas relações sociais
Acácio e Valdevinos (foi registrado com S mesmo, plural) formavam um par de homens que eram muito chegados e aficionados a bona-chira, aditada a outras bondades da boca e do baco (o dionísio grego). Se havia alguma tertúlia, data festiva aniversária, onde se iam servir bons pratos e saborosos quitutes, eles estavam lá, presença garantida. Não importava se tivessem que até viajar, dezenas de km em troca dessa orgia cominativa, gustativa e prazenteira. O ato de refestelar-se era para a dupla ou o par de pessoas, um dos momentos de maior gaudio, de regalo, de um tipo de prazer algo orgástico, que cheirava a gozo ou satisfação sexual.
A iniciativa dinâmica ou expediente de esfalfar, de transpiração de camisa no que fosse produzir e gerar algum ganho, não era com Valdevinos. Também veio de certa herança. Duas na intimidade e recônditos genéticos. A toleima e leniência de quem o criou e educou, e o mote grupal. Labor e ergonomia não eram com Valdevinos. E com certas escoras e suportes parentais ele sempre contou. Se destinado foi, por isso nordestino. Destinos gentílicos e idílicos.Na esteira desses desideratos e celibatos, vem de chofre outra questão existencial e social, demonstradas nesse excerto. A hipocrisia humana. Bem ao estilo dos personagens de Molière. Quantas Dorinas, quantos orgon nos circundam, em nossos dias e datas dos bons gáudios, boas-xiras e demais raçoes capitosas e palatáveis.
“Oh, parabéns tá. Viemos aqui trazer-lhe nossa saúde, nosso viva, nossas lembranças. Por favor, não repare, tá. Uma lembrança”. Mas, oh, você merece muito, um toantíssimo mais hein! Ah, quanta patuscada, quantos Valdevinos mais.
Outra questão que permeia certos tipos sociais, quid e quejandos. A tão badalada e propalada empatia. Todos hão de lembrar. Este sentimento de amparo ao outro, na saúde ou na doença. Foi surdido e ressurgido na pandemia do vírus Sars-cov-2. Hão de lembrar os leitores (as). Muito se falava nesse sentimento de se imaginar e colocar no destino de outrem. Natália Pasternak, filósofos e doutrinários. Médicos e paramédicos, faziam essas preleções.
Nenhum jovem ou moça nascem com formação ética. Ensina-se ética e não cobra ética, treina-se na ética, repete-se a ética_ Uma criança é por natureza e normalidade aética e amoral. Elas se tornam imbuídas e formadas nesses valores e sentimentos. E assim, o é com a honestidade, a civilidade, a fraternidade. São sentimentos e atributos humanos que necessitam de alguém ensinar, doutrinar e instruir a qualquer criança, adolescente e jovens.
Não é raro de se assistir a certas famílias que criam seus filhos e dependentes sem essa formação ética e de civilidade. Cenas comuns vistas com gerações de certas pessoas; não importa se pessoas mais antigas ou mais jovens. Ao que indica o progresso de Internet e redes socais, mídias e celulares, ao que parece, as novas gerações se mostram alheias e desinteressados nesses sentimentos, atributos distintivos de humanidade; sentimentalmente falando. Mais instigante e curioso até: são filhos e filhas de família em que o pai e/ou mãe, portam o sentimento divino, praticam alguma doutrina e seitas religiosas. Mas, foram negligentes com os filhos nesses quesitos humanitários de empatia.
Cenas comuns vistas com essa tendência. Por que havemos de compreender e concordar, a empatia deve ser expressa não apenas quando o outro adoece gravemente, se torna inapto, inválido e morre. Na morte, devemos levar nosso ombro, nosso abraço e amparo aos entes queridos mais próximos e íntimos, porque esses estão em sério sofrimento moral e emocional. Natural, em Luto. Nesse momento devemos expressar nossa humanidade aos que ficam partidos de saudade, de nostalgia; nesse doloroso transe da vida para o além, morte. Última e dolorida despedida. Quanto pesado, quanto pesar nessa hora.
É desalentador e incompreensível se ouvir de muitas pessoas nessas circunstâncias e momentos dolorosos. “Fulana ou sicrano morreu! - Ah morreu? Coitado, também estava mal, descansou! Você vai lá despedir dele? Ah, não sei. Acho que nem precisa né. Já morreu. Para quê!
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor