chupanças e Suctórios
Sabe aquela relação entre uma pessoa cordata, lhana, sempre serviçal, operosa com tudo, aquela que não sabe contestar quem a explora em todas as energias e bens materiais, mínimos e grandes, dinheiro, empréstimos, custeio de não se sabe que desejos e instintos dos outros? Exatamente a relação social entre esse perfil de pessoa e qualquer outra do tipo de pessoa: folgada, exploradora, caradura ou de pau, que nunca se cora ou se frange o sobrecenho diante dessa exploração? Então essa relação não é rara e desafiante de se ver. Ela existe.
Tanto assim que não precisa de ir longe à sua constatação e procura. Essa espécie de intercâmbio, desarmônico e desigual, é muito encontradiça nas relações amistosas ou parentais, bem próximas de nós. Os titulados amigos, os aspirantes parentais por afinidade, nas corporações e âmbito laboral, professional, funcional, recreativo. Imagine, aquela vistosa e envernizada jovem que tanto apego devota aos brilhos, às cores, ao Insta. A um tal de face. Que de forma dialógica com sua telinha pouco encara o interlocutor. Hum, está ali, contigua!
O instigante e admirável (negativamente, óbvio e ululante, conforme o previu Nelson Rodrigues) é que esses requebros e rapapés da pessoa esbulhada e espoliada em suas energias e ativos de toda natureza, vão como que se naturalizando entre as partes: a parte explorada e a exploradora. O sistema se dá nos moldes da síndrome de Estocolmo (queira ver). Existe a aclimatação, a normalização limada pelo tempo e repetição dos gestos. Maquinalmente/digitalmente. Essa realidade reprochável e indeclinável, faz-nos vir à lembrança o poeta Eduardo Costa. Leias abaixo.
Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor do nosso jardim/E não dizemos nada/Na segunda noite, já não se escondem/pisam as flores, matam nosso cão/e não dizemos nada./Até que um dia,/o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa,/rouba-nos a luz e,/conhecendo nosso medo,/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada. Eduardo Alves da Costa / Trecho do poema "no caminho, com maiakóvski
É assim, o que se estabelece entre n pessoas, que sorrateiramente, vão se curvando, cabisbaixa, piparotes nas orelhas e braços, um beliscão aqui outro ali. E tudo vai girando no eixo gravitacional dessas relações, inarmônicas, desastrosas, exploratórias, diligentes. Frementes!
A Neurociência, a Psicologia dos Costumes e Sociologia explicam esses tipos antissociais, que nos circundam. Vai tal comportamento como que se tornando normal, regra, “compliance”. É da natureza de certas pessoas explorar e esbulhar e parasitar e como sectários agir como chupança, extrair as energias, ativos materiais e serviçais do outro. Faz parte!
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor