Deus nos livre
Existem pessoas que se dizem apolítica. Mas, eu contesto, todos. Literalmente todos somos de alguma forma e em alguma atividade políticos. Há gente que pode ser não engajada, na função de ser um debatedor, um ativista, um sectário de alguma ideologia de governo, filiado e simpatizante de algum partido político. Há diferença. Curioso é até o nome, partido (particípio do verbo partir, partido) político. O entendimento mais simples e ao pé da letra é a parte de uma sociedade, um grupo de pessoas que se propõe a defender uma ideia, uma doutrina política e administrativa. Se revisitarmos as ideias de Aristóteles e Platão, temos lá a Polis Grega, a Civilitá, o cidadão, a civilidade, o civismo.
Conforme o título e abertura desta reflexão, a própria maneira, o estilo de vida de cada pessoa envolve um sentido político. Seria as atitudes, a personalidade, a dinâmica, as falas, o ritmo da comunicação, o tom com que imprimimos ao dirigir as nossas ideias, desde as mais simples, no íntimo de nossas casas até em reuniões de família, de trabalho, de corporações. Em tudo existe uma natureza política: enfim, a arte da convivência.
Conforme a personalidade e caráter da pessoa, sua índole, sua formação cultural e profissional, técnica e científica, conforme estes e outros quesitos, essa pessoa se mostrará se de fácil, mediana ou difícil convivência. Dois são os fatores determinantes no padrão e jeito de comunicação e convivência de cada um. São os fatores genéticos, os quais são praticamente imutáveis, uma vez a pessoa chegou à maturidade.
O outro fator, muito determinante é a educação ética e cultural e formação profissional oferecidas pela família, os pais. Em outras palavras a chamada educação de berço. Gosto muito de repetir que um cachorro se cria com ração e vacinas, um filho, além de ração e vacinas com educação de gente; desde a primeira infância, com limites, com regras de convivência, com celulares e tablet depois dos 12 anos de idade, com treinamento ético, etc. Aqui, então, está se formando um futuro cidadão, e não pessoa inútil, fútil, parasitária e gente problema para a família e Estado.
Na forma de uma prece ou palavra de ordem, em faço uma intercessão a Deus, no sentido de “Deus me livre” dos seguintes tipos sociais, culturais e ideológicos, tipos esses tão prevalecentes e indecentes de nossos tempos:
Deus me livre de gente cheia de melindres. Aquela pessoa que precisamos de tomar todos os cuidados para dirigir a ela algum pedido, algum favor, alguma crítica construtiva de reparo por algum vício, alguma palavra mal expressa ao outro, à falta de generosidade no que fala, no que faz. Deus que nos livre de gente desse modelo.
Deus me livre que gente que gosta de privilégios quando se encontra agrupada, em qualquer coletivo pessoal, familiar, festivo, corporativo, comemorativo. Sempre a melhor cadeira, o melhor assento, o prato mais belo, o lugar de destaque, o primeiro pedaço do bolo, o primeiro copo, o chocolate mais volumoso, a taça mais estética, o churrasco melhor do rodizio.
Deus me livre, daquele sujeito que apesar de ter até um diploma universitário, e ter recebido, falsamente e mentirosamente, quando criança e adolescente as medalhas verbais de príncipe ou princesa, de campeão e de alto QI, se tornou um chamado zangão da praça, um não faz nada, um legitimo sanguessuga de família e Estado, e passa a viver sem nada produzir e vive, sem escusas, às expensas da cumplicidade e voluntariedade de quem para sua construção o fez assim. Deus me livre desses tais.
Deus me livre, de gente que produto pronto e acabada de uma educação familiar tosca, tabajara e tolerante, aquela muito vista e assistida nos tempos digitais em que os filhos tudo podem, sem saber o significado do sim e do não, do isto pode e isto não pode. Esses filhos crescem e chegam a adultos, sem noção de trabalho, de produção, de cooperação, sem eira nem beira no que concerne a ética e empatia. E sequer se comovem com o sofrimento, não importa de quem, se pai, mãe, avó. Muito menos de alguém tido e havido por esse sujeito assim, tortamente criado, como algum inferior e sem dignidade. Deus me livre de todos esses tipos humanos e sociais. Amem.