BOOOOOOM DIA....
OI , BOA-NOITE , BOOOM-DIA , COMO VAI ?
João Joaquim
Como de hábito eu caminhava, ou melhor eu
trotava no Bosque dos Buritis pela manhã . Digo mais que sou useiro e vezeiro
no cumprimento às pessoas que olham para mim. E mesmo para quem não me olha.
Nesse dia de março, não fugi ao meu costume. No que estava em atitude de alguns
alongamentos, passava uma madura senhora com um smartphone nas mãos e fone no
ouvido. Não era uma balzaquiana. Ela tinha (tem) perto de 40 anos. Disse-lhe de
forma bem escandida boooom dia! Ao que ela retrocedeu o tronco, meneou a cabeça
em minha direção e com ares reprovativos perguntou, o Sr me conhece? De
pronto eu olhei para ela com um terno e respeitoso sorriso e retorqui: não a
conheço e nunca a vi, mas ainda assim eu lhe desejo um bom-dia! Como que
comendo algumas letras, ela devolveu a saudação e picou o passo toda
empertigada.
Todo este pequeno ritual de meu encontro e
desencontro com aquela também caminhante dos Buritis foi o quanto basta
para que eu refletisse sobre uma atitude tão comezinha ou perfunctória no gasto
de energia; mas o quanto ela pode ser rica de significados e de laços e
alianças emotivas e benfazejas para nós animais humanos e os não humanos. Eu
estou a me referir sobre o gesto da saudação ; olá, oi, bom-dia, boa-tarde, boa-noite,
como vai ? O sorriso , a gargalhada, o bom humor, a alegria, ainda são os
melhores fatores de bem-estar. Com esses sentimentos e gestos nós sintetizamos
e liberamos as melhores substâncias como as endorfinas, as catecolaminas , a
dopamina; hormônios do prazer e da felicidade.
O que é uma saudação ou cumprimento? É um gesto que
posso expressá-lo com palavras, com uma interjeição ou mesmo discurso a alguém.
Passo também fazê-lo através de um gesto, uma mímica ou um sorriso, de
preferência não amarelo. Interessante quando buscamos a etimologia dos verbetes
para entender melhor os significados dos gestos. Saudação tem relação com saúde# saudar tem o mesmo significado
de salutar (saudável)#. Ora, no momento em que desejo ou recomendo um bom-dia,
boa-tarde ou boa-noite a alguém eu estou lhe comunicando um voto, um sentimento
de bem-estar, de saúde, de felicidade.
Uma expressão desejosa de um momento melhor,
alegre, ou mais um dia de saúde, bem-aventurança. Nada mais é do que
nossa solidariedade, nossa ternura, nossa oportunidade de desfrutarmos juntos
das dádivas e graças que encerra a própria vida.
A manifestação de alegria e júbilo é uma sensação
tão natural e benévola que não é exclusiva do gênero humano. Nós a encontramos
no mundo dos irracionais. Mesmo entre os animais menos evoluídos. Basta
observar tal manifestação recíproca entre insetos como as formigas, vespas e
borboletas. Será que existe gestos de
mais reciprocidade do que a faina e lida diária das formigas ou abelhas
operárias ?
O que observamos no mundo de hoje? Como vivem as
pessoas nessa era da hipercomunicação, da hipermodernidade e da
velocidade máxima em tudo que se faz? Nós humanos estamos cada vez mais
nos comportando como máquinas pensantes, mas pouco afeitas ao afeto, à amizade,
ao amor. Pensamos em demasia com o cérebro e sentimos pouco com o coração
. Calculamos de mais e amamos de menos. Contradições que não
condizem com os desígnios afetuosos e solidários da pessoa humana. Nós fomos
concebidos para o amor e para o bem. As pessoas, hoje, vivem massivamente
urbanizadas. Todos os seres humanos estão tão próximos, mas distante ao mesmo
tempo. Deixamos de há muito as selvas florestais e as cavernas mas, nos
cercamos de uma floresta de concreto, ferragens, condomínios e portões
eletrônicos. As pessoas pouco falam mais entre si, inclusive entre os membros
familiares. A informática, as mídias digitais, a internet e as redes sociais
isolaram mais os indivíduos. A onda do momento é a conexão no mundo virtual.
Ninguém mais fala com ninguém . Todos andam de mãos dadas, mas com os seus
apetrechos de informática ( celulares, smartphones, iPad, notebooks).
Por toda essa alienação do mundo urbano, da
hipervelocidade, da multiconexão, é que a vida vem perdendo o sentido. Por isso
soa estranho e muito esquisito para os hiperconectados aqueles gestos de
civilidade, de solidariedade e de humanização. Oi, olá, como vai? Bom-dia,
boa-noite! Quem é você? Eu não o conheço!