A MANDIOCA
A MANDIOCA NÃO É DA NOSSA OCA
João Joaquim
Tem
gente que só fica pensando em coisas importadas e só por isso dão a elas a
maior importância. Sem trocadilho. Foi mera incidência igual de radicais.
Jabuticaba por exemplo. Quer coisa mais linda e apetitosa do que essa frutinha
que mais parece uma pérola. O curioso da jabuticaba é que ela dá direto no pau.
E o gostoso é degustar essa delícia na fonte, isto é, no próprio pau. Chupar ou
degustar essa pérola negra dos cerrados é questão de escolha, eu por exemplo,
prefiro comê-la por inteiro, não perco nada.
Deixando por
exemplo esta maravilha, que parece ser exclusiva do Brasil, eu quero falar de
um outro patrimônio da humanidade. Pena que não seja exclusivo nosso. Estou a
me referir à mandioca (do tupi, mandi + oca, mandioca).
Por mais que
queira a presidente Dilma Rousseff, afirmando que a mandioca é uma conquista
nossa, em posso cravar por quantas mandiocas houver que essa nutritiva euforbiácea
foi descoberta por outra civilização.
Conta-se que
havia uma tribo indígena no México , onde vivia uma criança de tenra idade
muito inteligente de nome mani. Essa indiazinha inexplicavelmente morreu de
morte súbita e sem as dores da indesejada das gentes. Como tradição daquela
tribo o corpo da menina foi enterrado dentro da própria oca( habitação
indígena). Com o passar dos tempos nasceu uma planta sobre a sepultura de mani,
e assim floresceu e se tornou verdejante por meses.
Intrigados
com aquela planta os índios resolveram arrancá-la para melhor explorá-la e
viram que ela tinha uma raiz de casca marrom e interior branco, branco. Aquele
tubérculo saboroso foi entendido como um presente de tupã e recebeu o nome de
raiz de mani. Como tinha nascido dentro da oca ficou manioca, e por questão eufônica se tornou mandioca.
Outra versão sobre a origem da mandioca vem do
folclore do alto Solimões e Amazonas. Conta-se
que séculos atrás diversas tribos da região cultivavam o tubérculo como uma
herança dos ancestrais. Era hábito desses indígenas fazer uma espécie de pirão
ou sopa com a fécula da raiz da planta
misturada a muitos peixes da região , os mandis, espécie de bagres, de carne
muito saborosa. Essa iguaria era muito difundida e apreciada por todas as ocas
do rio Solimões até o rio Amazonas. Assim como o componente nutricional mais
importante era a proteína da carne do mandi, preparada em todas as ocas, nada
mais conseqüente do que receber o nome de mandioca (mandi+oca). Dessa iguaria
apetitosa surgiu o nome da planta.
O que importa
nas questões da mandioca é que ela tem uma função significativa na nossa
alimentação e na economia e até na História. Não foi sem motivo que o tubérculo
foi nome de partido político (conservador) na época do império. Na Bahia, por
exemplo os adeptos da sigla partidária eram chamados de os mandiocas.
Não ficam só
nisso as discussões mandiocais. Em 2006 tivemos na câmara a bancada da
mandioca. O que preconizava esses parlamentares? Que o nosso trigo, nossa
farinha de panificação tivesse 20% de adicional de polvilho de mandiocas. No
plural porque são várias espécies
Hoje sabe-se
que a planta é universal. Ela é cultivada em diversos países. É oportuno
advertir os consumidores que essa euforbiácea encarna variedades interessantes .
Conforme explica o folclore indígena existem entre as subespécies dois grandes
grupos , as mandioca mansas de índole pacífica, e as bravas. Estas, se ingeridas
sem o devido cozimento possui um veneno e pode ser mortal ao ser humano.
Assim discorrido e já dando contornos mandioqueiros
finais, eu lamento trazer essas
informações históricas e científicas à nosso ilustra presidenta Dilma Rousseff.
A mandioca, quando muito, faz parte do cardápio nacional. Ela não é uma conquista
nem brasileira, nem do PT. Ela é uma dádiva da natureza, da Amazônia e do
mundo. Nossas saudações à presidenta que de forma festiva e esportiva rendeu
suas homenagens não só à mandioca aqui cultivada( de novo, não é nossa), mas
sobretudo à capacidade criadora do “homo e da mulher sapiens”. Quanta platitude
e abobrinhas também , não ?
João Joaquim de Oliveira médico e articulista do DM joaomedicina.ufg@gmail.com