Educação uterina
EDUCAÇÃO UTERINA
João Joaquim
Se educássemos toda criança como educamos um feto na vida intrauterina a humanidade teria mais virtudes do que vícios. Sei que tal provérbio pode impactar algumas mentes e sentimentos. Mas, é uma forma de dar vazão a algumas reflexões e pensamentos; e tanto melhor se tiver anuência e consonância nas considerações e críticas dos que me leem, de pais e educadores.
Vamos analisar o ser humano desde a sua fecundação e ver o que se faz providencialmente nesse sentido. Um grave erro e vício já fazem muitos genitores nessa etapa da vida humana. Isto se dá justamente na ausência de providência e preparo dos próprios genitores na concepção dos filhos.
Em outros termos: quantos e quantos filhos não são gerados sem uma previsão bem racional? Enfim, sem um mínimo planejamento familiar. Se um filho não é emocional e racionalmente bem projetado têm-se aí vários riscos de um produto (leia-se pessoa, indivíduo) mal acabado em todas as suas características e dimensões. Grosso modo, tal resultado pode-se comparar a outro produto inventivo, que primeiro é idealizado, pensado , refletido, preparado, raciocinado( com uso da razão), concebido primeiro na esfera do afeto, da emoção e do amor.
Mas, deixemos tais equívocos e desvios à margem de análise e tomemos o processo conceptivo e formativo da pessoa humana (não é redundância, porque há pessoa não humana).
Numa analogia de fácil entendimento podemos dividir a educação e formação do indivíduo (embora este seja indivisível) em duas “fôrmas”( como se fosse uma fôrma de bolo) . A primeira fôrma indissociável da vida já é de todos conhecida. É a fôrma uterina na qual se principia a concepção ou formação da criança. Daremos ênfase ao termo porque ele resume o ponto central dessa digressão, destas reflexões.
O verbete criança vem do latim, crear, creantia, criança. Processo de gerar, formar e educar, “lato sensu”, a pessoa humana.
Hoje, se sabe, que estamos num processo evolutivo muito acelerado graças aos avanços de informação, das Ciências e das tecnologias.
Sabe-se que um adolescente de 16 anos está quase completamente formado em todos os seus processos psíquicos e biológicos. Daí aquela recomendação: se se quer formação de um bom cidadão, forme-o enquanto ele for criança, porque uma vez crescido e adulto pouco ou nada se pode fazer para modificá-lo. É o princípio ou força determinante, do pau que cresce torto, torto ele morrerá.
Na primeira fôrma da vida então, o útero, o indivíduo vai se conformar ou se adaptar a esse modelo que a vida lhe impõe através do ventre materno. E de seus contornos, limites e laços (ligamentos) o feto não pode se desprender. É a primeira condição “sine qua non” para a vida. Trata-se do primeiro regramento e fôrma na educação da pessoa humana.
E o que é mais construtivo, mais reconfortante: o feto se conforma; e vive nessa fôrma (útero) no melhor bem estar, na maior segurança e felicidade. Tanto que a sua primeira experiência de sofrimento, de ameaça, e de dor é justamente quando é trazido à luz do mundo (luzes artificiais e fortes) e ao alarido das vozes humanas. Tem-se aí o primeiro choro no contato com o mundo exterior e com os outros humanos, além da mãe.
A segunda fôrma a que o indivíduo deveria ser submetido tem maior importância por ser ela a de maior duração, de finalização, de arremate, de acabamento; aquela de se tornar pronto o indivíduo. A segunda fôrma da vida da pessoa humana poder-se-ia ser resumida nesses três processos: 1- criação desde a fecundação e crescimento físico; 2- educação; e 3- formação.
Bem compreendidos referidos processos. Criar; se cria um animal e uma criança. Educar; (treinar), se faz com uma criança e um cachorrinho. Todavia, a formação do indivíduo, de um cidadão, necessita das duas primeiras etapas e um longo período de aprimoramento e ensino de todas as virtudes, de valores éticos e morais, de boas normas nas relações sociais, de todo um conjunto de regras de humanização do indivíduo.
Todo esse conjunto de atitudes e ensinamentos deve ser feito quando criança, quando ela é mais “plástica”, mais modelável. Assim tornamos esse indivíduo sensível o tudo que se lhe é ensinado, educado e formado.
Todo esse trabalho de transformação -criação, educação e formação – é o segundo útero, a segunda e definitiva fôrma que está faltando aos nossos genitores, aos pais e mães de nossa sociedade. E por que não até aos nossos educadores e psicólogos que vêm se mostrando muito permissivos e pouco uterinos nos limites e regras aos filhos e alunos dos tempos digitais e da internet.
E essas novas tendências e diretrizes têm me deixado preocupado com o destino e com os rumos da humanidade . Onde iremos parar com os descaminhos que andam permeando nossa sociedade? Nosso processo educacional , nossos valores éticos? Há tempo e oportunidade de repensar todas essas novas normas que se propagam e se dizem antenadas com o mundo moderno! Há tempo de mudar. Junho /2017.