DOS
HOMENS E CÃES URBANOS
João
Joaquim
Eu muito
já debrucei sobre a finalidade dos cães na vida do homem urbano. No caso aqui
do chamado bicho homem (gênero). Eu analisei, refleti. Sentei sobre meus
grandes glúteos e conclui: nenhuma finalidade . E aqui eu verto
minhas razões. E foi um ato que me tomou vários momentos como meditabundo. E
sem recurso do quimbundo. Buscando informações ancestrais deparei-me com a
biografia dos cachorros. Em remotas eras não havia o cão domesticado como o
temos hoje. As espécies existentes eram selvagens.
Todos
levavam vida como levam muitos dos ainda cães bravios. Como temos os
casos dos cães selvagens africanos, dos lobos, dos guarás, dos lobos-guarás.
E aqui é
que estava o pulo-do-gato, ou melhor o pulo do cão. Para sobreviver, tanto os
gatos como os cães tinham que caçar. Mas, não só o cão e o gato, o homens tinham
que caçar. E aqui torna-se útil uma achega ou adento. No ato da caça era o
homem (masculino) quem de fato enfrentava os perigos da caça. Porque, mesmo
sendo forte e inteligente, o homem mudava de lado. Quero dizer, ele era
caçado. Como não havia a política nos moldes de hoje, o homem nunca sofria
cassação. Mas volta e meia virava caça nas garras de predadores. A mulher, não!
A mulher ficava mais de prendas domésticas no preparo gastronômico das caças,
no cuidado das crianças, da casa e outros afazeres do lar.
Foi
nesses interregnos de caça e descanso , dos momentos de ameaça, das rondas do
perigo, etc, foi daí que o homem, masculamente falando, teve uma ideia
(insight). E se a gente tornasse os cães nossos aliados? nossos
cachorros amigos? Muitos deles melhor do que um amigo cachorro. Mas, para
tanto dever-se-ia se dar ao trabalho de domar, de civilizar o cachorro. Ato
contínuo, tinha que capturar alguns representantes, trazê-los para o convívio
das pessoas, quebrantar-lhes a violência e torna-los aliados do homem . E assim se
fez. Veio o primeiro casal de algum canídeo, este casal deu algumas
crias, esses novos indivíduos, agora não mais canibais, foram se incorporando à
rotina dos humanos. E como se fez essa cooperação cachorral?
Os
cachorros, antes selvagens, se tornaram domesticados. Mas não perdiam o
instinto da caça. Mesmo na sua mansidão por imposição, quando açulados e
incitados extravasavam todo o instinto predador. Essa lembrança e instinto das
selvas de caçadores eram mantidos.
Enfim, o
homem agora, além das triviais ferramentas de caça dispunha da melhor
ferramenta viva, o cão. Os instrumentos de caça de então eram a pedra, o arco e
flecha, o porrete e algumas armadilhas naturais. Arapucas, puçás, redes de
pesca, alçapões, etc.
A
eficácia de caça com o uso da cachorrada era quase infalível. Porque os cães
tinham de forma nativa e instintiva o dom da caça. O que contam os
historiadores venatórios é que quando se soltava um cão em busca da caça, era
quase certo o resultado de abate, dada a inteligência e vocação natural do
animal.
Acabadas
as caças e civilizado o homem, eis que foi posta a grande questão ecológica e
canina. O que fazer agora com o antes grande aliado dos humanos na sua ingente
sobrevivência? Foi daí que aflorou de imediato a generosidade dos humanos
corações. Os canídeos foram adotados nos entornos das famílias. E assim outras
funções foram atribuídas ao melhor amigo do homem. Entre essas , a guarda da
casa, do patrimônio, o guia dos deficientes visuais, o cão sentinela, o cão
policial, o cão monitor de entorpecentes, o cão pastor de ovelhas, o cão
cobaia. Se bem que esta função de cobaia, nos parece meio inumana. Mesmo sob rígido protocolo bioético.
Em todas
essas missões o que sempre observou foram muitas virtudes e valores morais do
animal. Têm-se por exemplo desse amigo animal a lealdade, a bravura, o
enfrentamento canibal do inimigo, a fidelidade. Numa palavra, a eterna e inarredável
amizade.
Mas,
e quando se analisa o predomínio da urbanização dos humanos? Vem a
eterna e esquecida questão. Porque além de urbanizado o homem deixou de ser
terráqueo. Com as construções dos arranha-céus e nababescas torres
residenciais, o homem se tornou um animal aéreo. São prédios que mais lembram a
torre de babel. Que o diga o Burj Khalifa (Dubai, Emirados
Árabes), 828 metros ; assim
vieram as esquisitices e os destrambelhos dos descendentes do homo sapiens
sapiens( não é repetição, escreve-se assim mesmo, sapiens sapiens).
Hoje
reina o homo urbanus, porque se tornou um político e cidadão. E continua a
relação cachorro/ homem, homem /cachorro. Em nome das virtudes do animal, o
bicho foi trazido para o interior dos confinados condomínios, das apertadas
construções. Tem-se agora o bicho como objeto decorativo. E ele é trazido
restrito do direito de ir e vir. Criaram-lhe até um título de consolação:
animal de estimação. De estimação? Não seria animal de expiação, frente a
tanta privação e impostas restrições?
Parece
até uma piração! E fica uma interrogação: quem neste imbróglio tem mais razão?
O ex Canibal e agora animal domiciliado ou o homo urbanus ? O outrora sapiens sapiens ? Outubro/2018.
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