terça-feira, 30 de outubro de 2018

HOMENS E CÃES


DOS HOMENS E CÃES URBANOS
João Joaquim 

Eu muito já debrucei sobre a finalidade dos cães na vida do homem urbano. No caso aqui do chamado bicho homem (gênero). Eu analisei, refleti. Sentei sobre meus grandes glúteos e conclui: nenhuma finalidade . E   aqui eu verto minhas razões. E foi um ato que me tomou vários momentos como meditabundo. E sem recurso do quimbundo. Buscando informações ancestrais deparei-me com a biografia dos cachorros. Em remotas eras não havia o cão domesticado como o temos hoje. As espécies existentes eram selvagens.
Todos levavam vida como levam muitos dos ainda cães  bravios. Como temos os casos dos cães selvagens africanos, dos lobos, dos guarás, dos lobos-guarás.
E aqui é que estava o pulo-do-gato, ou melhor o pulo do cão. Para sobreviver, tanto os gatos como os cães tinham que caçar. Mas, não só o cão e o gato, o homens tinham que caçar. E aqui torna-se útil uma achega ou adento. No ato da caça era o homem (masculino) quem de fato enfrentava os perigos da caça. Porque, mesmo sendo forte e inteligente, o homem mudava de lado. Quero dizer, ele era caçado. Como não havia a política nos moldes de hoje, o homem nunca sofria cassação. Mas volta e meia virava caça nas garras de predadores. A mulher, não! A mulher ficava mais de prendas domésticas no preparo gastronômico das caças, no cuidado das crianças, da casa e outros afazeres do lar.
Foi nesses interregnos de caça e descanso , dos momentos de ameaça, das rondas do perigo, etc, foi daí que o homem, masculamente falando, teve uma ideia (insight). E se a gente  tornasse os cães nossos aliados?  nossos cachorros amigos?  Muitos deles melhor do que um amigo cachorro. Mas, para tanto dever-se-ia se dar ao trabalho de domar, de civilizar o cachorro. Ato contínuo, tinha que capturar alguns representantes, trazê-los para o convívio das pessoas, quebrantar-lhes a violência  e torna-los aliados do homem . E assim se fez.  Veio  o primeiro casal de algum canídeo, este casal deu algumas crias, esses novos indivíduos, agora não mais canibais, foram se incorporando à rotina dos humanos. E como se fez essa cooperação cachorral?
Os cachorros, antes selvagens, se tornaram domesticados. Mas não perdiam o instinto da caça. Mesmo na sua mansidão por imposição, quando açulados e incitados extravasavam todo o instinto predador. Essa lembrança e instinto das selvas de caçadores eram mantidos.
Enfim, o homem agora, além das triviais ferramentas de caça dispunha da melhor ferramenta viva, o cão. Os instrumentos de caça de então eram a pedra, o arco e flecha, o porrete e algumas armadilhas naturais. Arapucas, puçás, redes de pesca, alçapões, etc.
A eficácia de caça com o uso da cachorrada era quase infalível. Porque os cães tinham de forma nativa e instintiva o dom da caça. O que contam os historiadores venatórios é que quando se soltava um cão em busca da caça, era quase certo o resultado de abate, dada a inteligência e vocação natural do animal.
Acabadas as caças e civilizado o homem, eis que foi posta a grande questão ecológica e canina. O que fazer agora com o antes grande aliado dos humanos na sua ingente sobrevivência? Foi daí que aflorou de imediato a generosidade dos humanos corações. Os canídeos foram adotados nos entornos das famílias. E assim outras funções foram atribuídas ao melhor amigo do homem. Entre essas , a guarda da casa, do patrimônio, o guia dos deficientes visuais, o cão sentinela, o cão policial, o cão monitor de entorpecentes, o cão pastor de ovelhas, o cão cobaia. Se bem que esta função de cobaia, nos parece meio inumana.  Mesmo sob rígido protocolo bioético.
Em todas essas missões o que sempre observou foram muitas virtudes e valores morais do animal. Têm-se por exemplo desse amigo animal a lealdade, a bravura, o enfrentamento canibal do inimigo, a fidelidade. Numa palavra, a eterna e inarredável amizade.
Mas,  e quando se analisa o predomínio da urbanização dos humanos?  Vem a eterna e esquecida questão. Porque além de urbanizado o homem deixou de ser terráqueo. Com as construções dos arranha-céus e nababescas torres residenciais, o homem se tornou um animal aéreo. São prédios que mais lembram a torre de babel. Que o diga o Burj Khalifa (Dubai, Emirados Árabes), 828 metros ; assim vieram as esquisitices e os destrambelhos dos descendentes do homo sapiens sapiens( não é repetição, escreve-se assim mesmo, sapiens sapiens).
Hoje reina o homo urbanus, porque se tornou um político e cidadão. E continua a relação cachorro/ homem, homem /cachorro. Em nome das virtudes do animal, o bicho foi trazido para o interior dos confinados condomínios, das apertadas construções. Tem-se agora o bicho como objeto decorativo. E ele é trazido restrito do direito de ir e vir. Criaram-lhe até um título de consolação:  animal de estimação. De estimação? Não seria animal de expiação, frente a tanta privação e impostas restrições?
Parece até uma piração! E fica uma interrogação: quem neste imbróglio tem mais razão? O ex  Canibal e agora animal domiciliado ou o homo urbanus ?   O outrora sapiens sapiens ?  Outubro/2018.  

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