terça-feira, 27 de julho de 2021

Autoengano

 

AUTO-ENGANO

João Joaquim  

 

O quanto de contribuição negativa e de desconstrução um pai e mãe podem estar proporcionando e oferendo a um filho? A um educando, a um adolescente e jovem? Se, o quanto de ruim assim fazendo, isto é: se tornando complacente, cúmplice e leniente com o comportamento, com as suas imaturas e rebeldes teimosas, suas atitudes antissociais, desadaptadas e desajustadas? Enfim, são perguntas emblemáticas das relações de pais e filhos, de alunos e professores. Perguntas de todos os tempos. Mas, de maior significado agora do império da Internet e Redes Sociais. Sociais? Há quem defenda como antissociais.  

Vamos às possibilidades. Um pai ou mãe que tudo consente, que em tudo se mostra conformidade e dá suporte com o sim, o tudo pode, o tudo patrocina e apoia. Isto sim, em primeiro lugar deseduca e desconstrói esse próprio filho ou filha. E de igual efeito, esse pai ou essa mãe está sendo vítima do próprio engano. O chamado auto-engano é bem estudado pela psicóloga do comportamento. Trata-se de um mecanismo psíquico de mentir para si mesmo(a). Aristóteles foi O Filosofo que estudou o fenômeno categorizando-o como uma estratégia de perpetuação da espécie já nos animais. Inclusive entre algumas bactérias e animais menores.

   Uma pessoa que dá acolhimento ao outro, seja a um filho ou quem ela quer apoiar e se tornar como uma escora e suporte para o comportamento impróprio desse terceiro não engana e mente para esse protegido; mas acima de qualquer dúvida, mente para si mesmo. Nessa forma de engano, essa pessoa cúmplice comete o pior dos autoenganos porque mente e engana a si própria. O Filosofo Nietzsche foi um pensador que bem expressou essa estratégia de mentir para si mesmo. Renê Descartes e Fernando Pessoa foram outros pensadores que discorreram sobre o autoengano. “Será que não sou alguém que está sonhando? “Perguntou o genial Fernando Pessoa.

   O autoengano conduz a pessoa a erros, a interpretação falsa do meio onde vive e outros convívios; e até mesmo o seu estilo de vida social, porque ela se refere perante sujeitos espertos e folgados prontos a tirar dessa pessoa ingênua e incauta algum proveito, tornando-a conscientemente subserviente, dominada, possuída.

   Para quem estuda e é aficionado de Filosofia há de lembrar de Sólon (638-558 a.C). Ele foi um dos 7 sábios da Grécia antiga. Era legislador e poeta. Disse o seguinte sobre o autoengano: “Cada um de vós em separado tem a voz astuta da raposa, mas todos juntos sois um tolo de cabeça oca”. No fundo e na realidade ele quis referir as pessoas como hipócritas, medíocres, iguais ou piores do que muitas ao redor.

   A psicologia cuida muito bem do comportamento de pessoas portadoras do chamado auto-engano. No chamado viés de confirmação há o que se chama concepções e valores puramente subjetivos, contrários à razão e às ciências. O autoengano com seus vieses de confirmação estão presentes nas relações conjugais, nos laços e vínculos familiares, sejam estes de amor, de paixão, de ciúme, de inveja, nas intrigas familiares. Para muitas pessoas se torna muito difícil pensar, racionalizar a verdade e sair de seu casulo, de sua concha e casca de noz.

   A política é outra seara de comportamento repleta de auto-enganos. Muitos ideológicos fazem como teorizou Nietzsche = a verdade é igual tomar banho em água fria, entrar e sair rapidamente. Pensam no que acreditam.

   Por fim, uma forma muito comezinha de auto-engano se dá no entorno, na interação familiar. Ele pode ocorrer entre vários membros parentais. Temos nesse modelo aquele pai, aquela mãe, aquele irmão; não importa. Há muita vez nesse grupo o chamado alvo ou escolhido do auto-engano. É o filho primaz que não precisa de mais aprimoramento, é o tal com inteligência acima da média, é aquele membro parental com tratamento diferenciado. Refere-se aqui, um modelo clássico de viés de confirmação. Sugestões de leituras Schelling, Schopenhauer, Nietzsche.

João Joaquim médico e articulista do Diário da Manhã

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