segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

  SILVÉRIO X Joaquim

 

Eu gosto, amo as palavras porque elas nos ajudam a expressar o que queremos. E como elas se unem na formação de outras de significados diferentes, umas às outras aderentes e coniventes. A Língua portuguesa é vasta, rica, polissêmica em vocábulos à nossa disposição. Calcula-se em 1 milhão de verbetes, de vocábulos à disposição daqueles e elas que usam da substância cinzenta e córtex cerebral para fazer jus ao nosso atributo maior, pensantes, inteligentes, racionais, humanos, honestos e éticos. Pena que nem todos exibem esses dotes, porque se inebriam, se aliciam com outros atrativos e apelos das tribos das futilidades e caganificâncias. Niilismo na quintessência.

Até os nomes próprios e impróprios trazem signos e significados à nossa disposição, quando estamos pensando, criando, elaborando, escrevendo. Tome o exemplo de Joaquim. Pode vir à lembrança como um nome ordinário, singelo, encontradiço, popular, modesto. Agora junte-se ele ao nome Silvério. Para quem emprega as sinapses neuríticas, vai logo lembrar de que? Perfídia, revindita, talião, traição? Vertem motivos os que pensam em deslealdade. Que horror! Ficamos irisados. Está lá aquela turma humanitária, pensando no bem do próximo, sobre de onde vem tanta derrama de injustiça e pimba. Vem este traidor: só podia ser dos reis, em favor régio. Não do povo, mas de tantos e outros áulicos apaniguados. Se esse Joaquim já não traz bons significados, imagine o outro, traidor, escroque, sicário, escrofuloso da pior espécie. Joaquim Silvério dos Reis, o traidor dos patriotas, sem confiança, infiel dos infidelis.

Palavras. Elas se unem para expressar o bem ou o mal. Não importa. Olhe esta! Ré, música, delituosa, criminal. O réu, a ré. Vamos fazer uma amalgama com outras. Boletim de ocorrência – bo -  Rebo-  Rébus, um enigma. Não: “te”, rebote, revindita. Bota. Rebotalho. Temos assim, várias em uma só palavra. Ré, bota, talho, lho. Rebotalho. Perceberam onde se pode chegar fazendo o jogo dos termos. É o trocadilho, o chamado calembur ou o escambo vocabular, vocação, vogal, letras, magistrado, tendenciosamente buscar outros amálgamas para o bem e para o mal.

Porque de início foi isto que se deu. Houve o homem, do seu surgimento, pensou-se logo o que fazer na comunicação e deliberação com os diferentes do gênero e com os de mesma igualha. Redundância? Pode ser. Mesmo = igualha, quase matemático. Nunca um indivíduo = outro indivíduo, indiviso. Nem gêmeos são iguais. Exemplo de igualha 2=2. Pronto, explicado. Se bem pensadas a álgebra e matemática são mais fieis, mais exatas. Mais não. Elas são inteiras e integrais, mesmo se valendo das partes, das frações e decimais.

Falar nisso quantos não são os rebotalhos que sem retábulos às costas, como sugere algum espaço sacro, nos rondam em nossas trajetórias vivenciais. Restolhos, restos de humanidades. Certa vez deparei-me com um indivíduo que separava restolhos de grãos em algum paiol. Aproximei-me. E ele me deu uma lição filosófica. Cada qual, se não zelar e amanhar o seu destino, pode tornar-se um restolho de humano. Porque humanos somos todos. Significante essa moral.  

Nenhum comentário:

Assassínios de Reputações

Quando se fala em assassinato, tem-se logo o conceito desse delituoso feito. Ato de matar, de eliminar o outro, também chamado de crime cont...