A CONFUSA E
INFERNAL COMÉDIA BRASILEIRA
João Joaquim
O magnânimo,
o polímata, o eviterno o imortal escritor e poeta ( poesia, de poiesis, gênese
e criação) Alighieri, escreveu a atemporal obra A Divina Comédia. Uma
magnifica parábola do inferno, do purgatório e do paraíso. Trata-se de um
cenário pavoroso, medonho ou dantesco (de Dantes, horroroso, medonho ), onde o
suplício era proporcional ao pecado de muitos famosos e governantes do passado,
já mortos.
A obra é
constituída de círculos -nove ao todo, e conforme os pecados, crimes cometidos
pelo indivíduo em vida, ele era enviado para um ou outro de mais tortura e
sofrimento.
“Era um sonho
dantesco...o tombadilho/ que das luzernas avermelhadas o brilho,/em sangue a se
banhar” - Castro Alves. Nesses versos, o grande poeta abolicionista se refere
aos suplícios por que passavam os escravos nos navios negreiros. Um grito de
protesto contra essa perversidade, cometida por muitas nações como o
Brasil império. Fomos um dos últimos a abolir essa prática desumana e cruel. Os
navios da escravidão mais pareciam cenários de um inferno, semelhante aos da
Divina Comédia.
A
reminiscência aqui a essa obra monumental alegoria, de Dante Alighieri,
foi simplesmente para contextualizar o tema presente. E a essência é justamente
o quanto de pecados, crimes, indignidades, erros e tanta corrupção que vem
tomando corpo e um jeito de naturalização em nossos tempos, quando se fala de
Brasil.
Tudo isso me
traz à memória a filósofa, Hannah Arendt, com sua tese de A banalidade do Mal
(um relato sobre a banalidade do nazismo ,de Adolf Eichmann , a mando e como
cúmplice do outro Adolf , o demoníaco Hitler.
Quando analisamos
a natureza do homem, constatamos o quanto ele tem de tendência ao mal, à
violência, ao feio, ao indigno, ao indecoroso, ao ilícito e ao ilegal. Daí foi
muito necessária a criação do Estado, de um Estado forte, controlador e
opressor. Teorias de Thomas Hobbes – Leviatã; e Rousseau - Contrato
Social.
Analisando
aqueles antigos pecados capitais (preguiça, ira, avareza, luxúria, gula, inveja
e orgulho). Os seus descendentes soam como fichinhas, ante tanta danação e
maldade que estes infligem às pessoas. Quer pecado mais danoso e maléfico do
que a corrupção ? Quanto de mortes nas estradas esburacadas e por falta de
assistência médica ? Dezenas de milhares por ano.
Quando se
pensa na violência, na maldade, na opressão, na privação que os homens
públicos, notadamente os governantes e parlamentares, impõem aos cidadãos e
governados, ficam as lembranças das penas ou círculos do inferno que eles
merecem, ou possam vir a merecer conforme um veredicto em juízo final. Um
julgamento aos moldes do Armagedon. Apocalipse 16-14-16. Que pena eles merecem
numa paródia à Divina Comédia ?
Os homens se
organizaram em Estados, criaram Constituições, Estamentos, leis, códigos de
relações sociais, códigos de punição e ordem. Com todas essas estruturas,
MUITAS são as violências, o desrespeito às leis classificadas de direitos
humanos; enfim, a toda forma de dignidade que fica a pergunta(?): e se
não houvesse todo o conjunto de regras de convivência e constituições? As leis
de todas as nações ?
Em que grau
de incivilidade e selvageria estaria o homem vivendo? A omissão, o descaso, a
desassistência, a insegurança pública, o analfabetismo, a insalubridade pública
. Todas campeiam pelos quatro cantos do Planeta. A maioria impunidade.
Estes bem que poderiam ser intitulados os novos pecados mortais de nossos
governantes que não cumprem os quesitos básicos de direitos humanos.
Alguns
comentários , de algumas dessas falhas de nossos governantes,
parlamentares e legisladores governantes (poder executivo) que aplicam as
regras, leis e constituição elaboradas pelos parlamentos (vereadores, deputados
estaduais e congressistas). Êi-los .
O pecado do
analfabetismo. As estatísticas do IBGE de momento apontam que o Brasil tem
cerca de 13 milhões de analfabetos absolutos. São pessoas (crianças maiores de
10 anos, jovens e adultos) que sequer rabiscam o nome ou leem uma placa de
endereço. São cegos totais em leitura. Cerca de 30% da população acima de 10
anos se faz de analfabetos funcionais. São aqueles que não sabem os
rudimentos de somar e dividir e mal compreendem o parágrafo de um jornal. Ou
seja, somados os absolutos e funcionais o Brasil tem cerca de 80 milhões de
cegos escolares. Uma tragédia inominável, quando se pensa estarmos na tão
declamada era digital. Que modernidade é esta de tantos analfabetos e ainda
escravizados do sistema Capitalista e consumidor ?
São números
que parecem subestimados, porque a tragédia escolar nos sugere ser bem maior.
Que pecado maior do que este poderia ser cometido pelos nossos mandatários?
Os direitos
aos cuidados básicos de saúde. Os cenários da falta de assistência médica são
mostrados diariamente nos telejornais. São cenas de sensibilizar os mais fortes
corações. Hoje, no Brasil, adoecer e buscar ajuda no SUS é um SOS sem garantia
de socorro. As mortes nas portas dos hospitais públicos já não espantam
ninguém, vamos como que nos naturalizando com as tragédias dos desmandos e
ingerências dos governantes e políticos.
Os médicos
que atendem nas unidades de saúde dos governos podem ter e têm a sua parcela de
culpa. Isto tem sido comprovado, mas a má remuneração desses profissionais e as
precárias condições de assistência, material, instrumental e predial,
constituem uma crônica e triste realidade em todos os níveis de governo. Uma
omissão pública sem punição.
De sorte que
esses dois pecados capitais, por si sós, são provas robustas e inclementes para
colocar muitos de nossos líderes políticos no banco do Armagedon. E aí o
veredito final : só mesmo Deus para um julgamento justo e devidas penas
para tanto pecado. Qual o círculo do inferno merecem muitos desses
criminosos governantes que pensam apenas em si, em se enriquecer e se
locupletar às expensas de dinheiro público ? As revelações dos corruptos
delatores , da operação Lava-Jato, são pequenas mostras da grande tragédia que
é a política da corrupção, do compadrio criminoso , em que se transformou o
Brasil dos três últimos presidentes; Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel
Temer. São todos farinha do mesmo fardo. Quão triste cenário, este em que
vivemos. outubro 2018