Os SEGREDOS DE UMA BOA CONVIVÊNCIA
João
Joaquim
Com as
mídias digitais e as redes sociais vivemos em uma atmosfera social com um
intenso e intrusivo patrulhamento do comportamento das pessoas. A internet e
todos os seus recursos vieram com esse poder, essa força de vigilância, de
crítica e devassa social. E para ser justo, bem justo mesmo, as próprias
pessoas ao se exporem em demasia em suas
páginas virtuais é que permitem e dão azo a que outras pessoas, na maioria das
vezes desocupadas e vazias façam essa implacável vigilância e patrulha.
Sempre
que escrevo e comento sobre as plataformas digitais, com suas ubíquas redes
sociais, vêm-me à lembrança uma consideração do semiólogo, filósofo e crítico
Umberto Eco (1932-2106). Perguntado pela jornalista Ilze Scamparini( Globo
News) sobre a internet, o grande escritor italiano não titubeou: as redes
sociais dão direito à palavra a uma legião de imbecis. E continua o
entrevistado, “antes eles falavam em algum bar após uma taça de vinha e a
conversa morria ali. Agora não, agora eles têm voz e vez”.
E é isto mesmo. Conforme Eco, muitos têm
direito à palavra como um prêmio Nobel. Os usuários da internet, na maioria
esmagadora, constituem um grande rebanho
de pessoas sem outros objetivos maiores e mais nobres na vida. Esses recursos
da Internet, para elas, permitem a que façam
as interações com o mesmo mundinho que as caracterizam; todos se encontram no
mesmo vácuo , nas mesmas frívolas e insossas atividades. Nada fazem, nada
produzem, existem num eterno far-niente.
A
questão do patrulhamento e da vigilância digital traz-nos no bojo do mesmo tema
outras questões das relações sociais que são as referências, as considerações,
as titulações, as adjetivações, os apelidos, as apreciações sobre as atitudes e
condutas das pessoas, o seu caráter; e
num grau extremo até os insultos que que são trocados. E trocados porque quase
todos, insultados e insultadores pertencem ao mesmo jaez, à mesma tribo social.
Quando
alguém recebe uma consideração, um comentário sobre si vindo de terceiros,
sejam pessoas “amigas”, seja de alguém do ciclo de inimigos, a primeira reação
deveria ser esta indagação : trata-se de
uma inverdade, de uma fofoca? Ou ao contrário: esse comentarista está se
referindo a alguma característica de fato verdadeira? Um comportamento,
atividade ou ato que cometi fora dos padrões sociais? Ora, se for isso
necessário se faz uma adaptação. A abelha deve voar e se comportar conforme a
ânimo e regras da colmeia, do contrário elas podem ser picadas pelas próprias companheiras.
Dentro
dessa análise, como alvo desses comentários, adjetivações ou apelidos entram
por exemplo referências étnicas, preferência sexual, cor da pele, etc. Nesses
termos, conforme os objetivos e tom do insultador, estamos diante de um crime e
necessário se faz gerar um boletim de ocorrência policial e denúncia ou queixa
crime no ministério público.
Em suma
aquilo que as pessoas dizem a nosso respeito pode ser uma verdade incontestável
com a qual eu tenho que conviver. A análise também aqui deve levar em conta o
objetivo desse comentarista, dessas considerações e características a mim
endereçadas.
Nesse
sentido, o tom, a intensidade desses títulos e atribuições. Mais do que isto , a finalidade dessas atribuições. O
inteiro teor, o objetivo desses comentários devem ser levados em conta. Até
mesmo quando alguém nos dirige algum insulto, seja ele de que magnitude for,
deve-se de forma civilizada e ponderada avaliar os termos empregados. E então
de forma educada, polida, e civilizada
responder à altura a esse insultador ou impostor(a).
Há um
princípio que afirma: “o insulto só funciona se você beber o veneno”. Assim
devemos reagir quando alguém nos fizer alguma referência com intenção de nos
irritar, nos desequilibrar ou tirar a nossa calma, a nossa civilidade. De sorte
que fica claro que ao receber um veneno, ele só me intoxicará ou fará mal se eu
o ingerir. Tomemos alguns exemplos da vida cotidiana.
Se
alguém olha para você e o qualifica de
careca, de gordo, de baixinho, de velho, de pé-rapado ou gay. Nesse instante,
você deve certificar se se de fato trata
de um atributo falso ou verdadeiro. Nessa circunstância os especialistas em
comportamento humano aconselham como reagir. Como exemplo: Se for um atributo falso e não injurioso ou
não preconceituoso. O que revela esse comentário? Nada mais do que a dor moral
ou inveja do insultador. Sua frustração, seus distúrbios adaptativos de
sociabilidade. Nada além disso. Pode-se tratar de uma pessoa perturbada e
desequilibrada que merece o nosso desprezo. Só isso.
Como
fecho desta matéria o que se deixa como dicas para qualquer um de nós é a busca
de uma convivência pacífica e civilizada. Cada um de nós deve ter uma cartilha
ou código de conduta nas relações sociais e referências ao outro.
Fazer
comentários e considerações a respeito de quem quer que seja pode se tornar uma
fórmula de inimizade e intolerância das mais biliosas.
Cada
pessoa tem o estilo de vida e as escolhas e gostos ao seu sabor, de acordo com
os seus valores, sua educação, cultura e formação escolar. Comentar que tal
mulher ou jovem escolheu casar para ter um maridão que tudo patrocina para a esposa,
que tal opção foi golpe do baú, pode ser a fórmula certa para ódio , antipatias e muita inimizade. O que temos
com isso? Cada qual que ouça e enxergue
conforme sua audição e visão. Inclusive quem está de seu próprio lado. Janeiro/2019.
João
Joaquim - médico - articulista DM
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
Com-viver
Andressa Médica
O CASAMENTO HIPOCRÁTICO DE MINHA
FILHA ANDRESSA DE SOUZA NEVES
João Joaquim
Uma das felicidades com que sonham os pais é a do casamento dos
filhos. E esta felicidade é maior e mais magnífica quando é do casamento da
filha. Aliás, é explicável. Quantos e quantos adjetivos se referem à noiva.
Natural porque a mulher é de fato portadora de inúmeros qualificativos que
faltam aos homens. Sensibilidade, encanto, sexto sentido, afabilidade, poesia,
ternura. Enfim sobram adjetivações. No trato por exemplo dos compromissos
afetivos e conjugais, alguém já ouviu falar em terno de noivo, gorro ou chapéu
de noivo. Se for mulher, quantos adereços, perfumes, bens ornamentais se
destinam a elas, noivas. Vestido de noiva, véu de noiva, convite da noiva,
noivado (da noiva). Ao ouvir o termo noivado, qual lembrança vem logo ? Claro
que ela, a noiva. O noivo vem depois como mero acessório.
Basta parar e refletir sobre o papel e os rituais esponsalícios.
Tome como exemplo a celebração religiosa. Alguém presta atenção na entrada do
noivo na igreja ? Só se ele atrasar ou cometer alguma gafe ou deslize na
hora do sim. Tudo e todos os olhares, câmeras e filmagens estão voltados para
ela, A Noiva. O vestido, o véu, o buquê de flores, suas maquiagens ,
adereços e sua expressão de felicidade. Não remanesce controvérsia de que
casamento parece uma convenção e celebração feminina. Basta um olhar mais
atento e considerar que até os padrinhos e madrinhas, as crianças acompanhantes
que fazem o séquito da noiva adquirem signos e cores diferenciadas. Tudo
voltado para ela, símbolos e signos da feminilidade.
Eu, de minha parte quando fui casar e receber a minha ex-noiva (Sandra
Regina Araújo), hoje minha esposa, guardo vivamente essas imagens. Ela toda
bela, airosa, elegante, entrando com todo aparato na igreja e o aqui mero
figurante lá atrás nas fileiras dos presentes , praticamente anônimo. Nesse
quesito foi até reconfortante, dado que sou mais tímido e recatado.
A questão é que a tradição dos casamentos tem mudado. Hoje não se casa
tanto ornamentalmente e majestosamente como antigamente. As celebrações,
os ritos e os arranjos conjugais vêm se modificando. E é compreensível
considerando a evolução, os avanços tecnocientíficos , e nesse rol entram
também as modificações do comportamento das pessoas, das famílias;
inseridos que estamos na chamada hipermodernidade, era digital, tempos da
hiperconectividade e da comunicação instantânea.
Neste janeiro de 2019 eu estou desfrutando da felicidade do casamento de
minha filha. Tenho dois filhos, a primogênita, Andressa e o caçula,
Gustavo. Minha filha está me proporcionando a 2ª maior felicidade, depois da felicidade de seu
nascimento. De forma sumária, eu explico como foi esse arranjo nupcial.
Tudo se iniciou com um flerte e vocação natural, um namoro e noivado de
6 anos e a conclusão do enlace conjugal. Antes de revelar o noivado e a união
conjugal, aliás estabilíssima, eu conto um pouco de sua infância.
Lá pelo ciclo maternal, 4 anos, 6 anos, 8 anos de idade um dos
brinquedos ou mimos de Andressa eram suas bonecas. Com esses objetos humanos
ela já instintivamente se fazia passar por babá, por mãe e não raro se
representava como médica das próprias bonecas. Nisso pode-se concluir que a
natureza é sábia e não faz nada por acaso e por saltos. Ela, aos poucos vai nos
mostrando os seus desígnios, a que fomos destinados. Caprichos de nossa
existência.
O primeiro grau se fez no Colégio Agostiniano ; o segundo grau no
colégio WR Goiânia. Dessa fase do ensino fundamental, A Andressa traz
construtivas reminiscências, marcas das melhores amizades feitas com colegas de
ensino e de seus professores.
No ensino fundamental a Andressa já tinha decidido o alvo de seu
principal namoro. A Medicina. Ou seja seu noivado e casamento com a profissão
médica já tinham prenúncios na idade das bonecas. Tudo se fez de forma natural.
Aos 24 anos de idade ela se graduou (casou) em Medicina pela UFMG –Belo
Horizonte MG, em dezembro/2018.
Comparativamente a Medicina se equivale a um noivado e casamento;
uma união conjugal das mais estáveis e duradouras. Pensem bem! Quantas
separações e divórcios se dão entre os casados tradicionais ? A chance do
médico ou médica se divorciar da Medicina é quase zero. Este sim ! Pode ser
considerado um SIM dos mais leais e fieis , até que a morte os(
profissional e a Medicina) separe.
Todo enredo desse estável e fidelíssimo casamento se dá assim:
Primeiro o (a) jovem tem atração pelo curso. Pede-se então a mão
(consentimento) à universidade via vestibular ou ENEM. Aceito a relação
afetiva (aprovação) inicia-se o namoro. E os primeiros anos constituem de fato
um namoro, uma confirmação do amor e afetividade entre o aluno (a) como
namorado(a) dessa Arte e Ciência do cuidado da saúde, do bem estar e da vida
das pessoas.
Passados os quatro primeiros anos, vêm o 5º e 6º anos, que representam o
noivado. Períodos em que os alunos iniciam a fase mais importante do curso. É o
contato com as disciplinas de forma prática e com o atendimento aos doentes.
Aqui pode-se afirmar que a relação não tem volta. Todos já se sentem meio
médicos.
A Medicina em tudo se assemelha ao casamento quando dos rituais da
formatura. Até mesmo com os convites aos escolhidos para as cerimônias e baile
final. Têm-se a missa com os formandos e familiares, a sessão de colação de
grau com a entrega dos diplomas e por último a grande festa com o baile
dos formandos e convidados.
E não esqueçamos que o casamento entre formandos com a Medicina tem o
registro no civil, que é o registro no Conselho Regional de Medicina. Tudo a
ver. E justiça seja feita, diferente do casamento entre pessoas, tanto o jovem
como a jovem médica, recém casados, terão direito e dever de trajar a mesma
indumentária, por exemplo roupas brancas. Como o popular jaleco. Esses
acessórios de cor branca, são como véu da noiva ou bata de branco para o
noivo.
Por isso minha felicidade e orgulho de participar e ser pai de uma filha
médica; minha herdeira na profissão , Dra Andressa de Souza Neves. A ELA,
declaro casada com essa das mais belas profissões, A Medicina; a Ciência e a
Arte do cuidado e amparo às pessoas que de alguma forma padece de algum mal,
seja este da alma ou do físico. Parabéns minha filha , por me
produzir tão grande realização, contentamento e felicidade. Janeiro/2019.
O Natal vem de....
AS VERDADES SOBRE O NATAL E PAPAI
NOEL
João Joaquim
As festas natalinas e a
confraternização universal pela chegada de ano novo nos trazem muitas
reflexões. Trata-se, de fato, de uma ocasião especial de eflúvios de muita
alegria e felicidade. E não importa, para a maioria das pessoas, tudo se dá de forma
irrefletida, com distensão e expansão dos corações e do espírito. Na essência e
nos efeitos, todas as celebrações, júbilos, prazeres, comidas e bebidas fartas
constituem lenitivos, bálsamos e tranquilizantes para as angústias, para as
dores do físico e da alma, para os transtornos de ansiedade de todos os
convivas dessas festas, mimos, votos de felicidade, trocas de presentes e
prazeres, muitos prazeres regados a vinhos, champanhes e outras libações ao
gosto de cada participante.
A primeira reflexão extraída dos
rituais de passagem do Natal e ano novo é esta, do prazer a todo custo. E como
custa porque tudo de consumo em dias de natal e ano novo vale muito dinheiro.
A segunda reflexão tem nexos com o
consumo, com o materialismo. É de longe o festival, o encontro de todos os
símbolos e consubstanciação do culto ao mundo material, ao luxo, à riqueza. Há
na mente, nos desejos, na ânsia e instinto das pessoas a insaciável luta,
movimento, empenho em apossar do melhor bem pessoal, do presente, do prato mais
saboroso, dos espocares de espumantes. Comer, comer, comer! Não importa
se no outro dia restará disposição para o trabalho, para os compromissos
diários . Comer não basta, tem que se fartar. Essas expansões dos
instintos e desejos de consumos vêm de priscas eras, como veremos a
seguir.
Assim, está é a primeira grande
consideração de Natal. Por que de tanto fervor, de tanto apetite com os quais
as pessoas entregam à prática de tanta glutonaria, do consumo farto e desmedido
de alimentos e bebidas? Como de todos conhecido, Natal, ou 25 de
dezembro, por convenção e simbolismo é a data de aniversário de Jesus
Cristo. Trata-se de uma convenção porque não há comprovação histórica do
nascimento de Jesus.
Sabido é que quando o filho de Deus
esteve nesse planeta, ele assumiu a condição carnal humana. Ele respirava,
suava, tinha fadiga, sede e fome. Como qualquer humano. Mas, não é sabido
através das escrituras sagradas e evangelhos que JESUS fosse dado a exageros e
orgias alimentares. Muito menos a libações festeiras de qualquer natureza e
troca de presentes suntuosos.
O que a historiografia e antropologia
nos mostram vem de outros tempos. A festa que temos hoje como natal começou 7
mil anos a.C. Na antiga Pérsia se reverenciava o deus Mitra, símbolo da luz. O
que se comemorava era o solstício de inverno do polo norte. O dia de maior luz
ou sol seria entre os dias 22 e 23 de dezembro. Tempo do sol invicto. Do
triunfo da luz sobre as trevas.
Na Grécia tais festivos dias se
referiam ao deus do vinho, Dionísio, daí as dionisíacas, comemorações de muitas
libações alcoólicas e comidas de toda ordem. Em outros países e regiões tinham
ainda as saturnálias em homenagem a saturno, o senhor e protetor da
agricultura. E nesses cortejos tudo era regado a muita bebida e tudo de comer.
Nessas festanças e orgias havia o costume da troca de presentes. Vem dessa
cultura o expediente atual dos ocidentais da troca de mimos e
presentes. Como convencionado presentes do Papai Noel.
No Egito o deus homenageado era
Osíris, representante dos antepassados e do mundo dos mortos. Na China o
costume de muita importância era o significado do Ying e Yang, como
representação da harmonia da natureza, a noite / dia, a lua / sol, do belo /
feio. Enfim, da dualidade das coisas.
No mundo ocidental essas datas
ganharam novos arranjos e novo simbolismo. Têm-se então o peso e os rituais do Cristianismo.
Uma observação a se fazer é que muitos mártires e santos são lembrados pela
data da morte e não do nascimento. É o exemplo de Jesus Cisto. Não se tem a
precisão de seu nascimento. Daí se comemora ou reverencia o dia de sua
crucificação, 6ª feira santa, e sua ressurreição (Páscoa). Tiradentes, o
mártir da Inconfidência Mineira, comemora-se o dia de sua morte 21 de abril.
No ano de 221 d.C o historiador
cristão Sextus Julius Africanus estipulou o dia 25 de dezembro como o dia do
nascimento de Jesus. A mesma data natalícia do deus Mitra Romano. Houve então
uma mudança da homenagem do solstício de inverno, do sol invicto (vencedor) ou
do deus Mitra para a homenagem a Jesus, 25 de dezembro, natal, nascimento de
Cristo, nosso Salvador. Tal mudança agradou aos líderes católicos e passou a
ser comemorada como Natal. E a data pegou. Ficou como símbolo.
A figura do papai Noel começa com o
bispo e depois São Nicolau. Tudo se originou na cidade de Myra, Turquia. Além
de bispo o homem era rico e generoso. Tanto que nessa época ele de forma
anônima deixou a 3 filhas de um pobre morador da cidade de Myra sacos de moedas
de ouro, como prendas para elas se casar. Que belo presente. Daí surgiu o
adjetivo Natal (nascimento, de christi natalis dies).
Em 1640, a Inglaterra, através do Rei
Charles, tentou abolir os festejos de natal. O rei foi derrubado, veio outro
chefe de Estado e a tradição de Natal foi mantida. Com a revolução industrial
novos arranjos e figurações foram dadas ao Natal.
Vimos que a figura do papai Noel foi
inspirada no filantrópico e caridoso São Nicolau. Em 1862 o figurinista Thomas
Nast vestiu de forma vistosa e vermelha e bom velhinho do Natal. E
para evitar disputas patronímicas deu-lhe uma residência isolada e neutra, a
Lapônia, onde o bom e simpático velhinho, de vermelho e barbas brancas se
move puxado por mansas renas.
Agora, para quem não sabe pasme e
durma com esta sacada. O papai Noel, vestido de vermelho, de gorro e barbas
brancas, como o vemos hoje em todos os comerciais é uma tirada comercial e
invenção da empresa coca-cola. Tudo iniciou em 1931. O próprio biótipo do
generoso velhinho, de abdome bojudo e saco de presentes revela as boas
intenções da multinacional de bebidas e comestíveis. A própria aparência do
Noel como a temos hoje lembra muito o design das garrafas de coca-cola. Tem-se
então aqui a verídica e inaudita história do Natal e do papai coca-cola, ou
melhor do papai Noel . Janeiro/2019.
Pareço e Sou..
PRIMEIRO AS APARÊNCIAS DEPOIS A ESSÊNCIA
João Joaquim
Conforme teorizou Jean-Paul Sartre assim se dá a
estrutura do homem; primeiro tem-se a existência, depois vem a essência.
Tivesse esse grande pensador vivido até os dias de hoje, século XXI, era da
“modernidade liquida” e descartável, talvez ele pudesse modificar o seu
princípio. Quem sabe este: primeiro tem-se a existência depois a aparência e
por fim a essência. O mundo se transformou em demasia nos estertores do século
XX e nos albores do século XXI. Como ficará a sociedade em meados e fim do século
XXI? A sucessão de mudanças tem-se dado em ritmo frenético. Tudo tem-se dado de
modo fluido, líquido, volátil e imprevisível. O tempo, que tempos! Os dias
correm e tudo (se)transforma.
Paul Sartre (1905-1980) viveu um século de guerras,
de transformações geopolíticas e econômicas, de confrontos de ideologias
políticas, de guerra fria entre o mundo capitalista (EUA) e o mundo comunista
(ex URSS). Ele não viu o surgimento da internet. Este mundo de agora das
comunicações prontas e instantâneas, do poder e penetração das redes sociais.
Hoje, além das guerras endêmicas que continuam
ceifando vidas, temos uma guerra de informação. São as fake News, as fofocas, a
vigilância eletrônica, a bisbilhotice da vida alheia, a invasão da
privacidade das pessoas e tudo quanto de mensagens de conteúdo vazio, rasteiro,
fútil e difamante. Como acertadamente opinou o escritor e semiólogo Umberto eco
(1932-2016) a internet e as redes socais permitiram a que uma legião de idiotas
e imbecis tivessem vez e voz.
Se antes eles falavam em algum bordel ou
botequim e ali mesmo findavam suas bobagens e frivolidades, agora eles dispõem
desses canais por demais livres e democráticos, as redes sociais. Todos agora
expressam o que quer, como querem e a
hora que querem . Sem filtro, sem barreiras, sem um controle de qualidade.
Eu não quero passar por um idiota, nem
retrógrado, em desclassificar, praguejar e demonizar o mundo virtual e suas
plataformas de navegação, as redes sociais e tudo quanto nossa sociedade
dispõe de mídias digitais. Seria no mínimo uma atitude ou reação de néscio e
paspalhão. O que se considera de incontestável é que a internet com todos os
seus aplicativos de conectividade se constitui numa invenção maravilhosa e
grande legado do final do século XX. Os seus idealizados não a projetaram
pensando no mal, em futilidades. Acima de tudo, foi uma invenção que veio
para adicionar comunicação confiável, cultura, informação e entretenimento.
Na função de comunicação e cultura o quanto se
tornou uma ferramenta preciosa e imprescindível na educação e formação
profissional em todos os níveis de ensino. Basta reportarmos aos exemplos dos
países desenvolvidos como Coréia do Sul, Noruega e Finlândia, onde já quase não
se utiliza o livro físico. A tendência tem sido a alfabetização com o emprego
do livro eletrônico, o e-book , da internet e as plataformas digitais. Uma
qualidade dessas novas tecnologias na educação é a economia de papel,
preservação da natureza (menos árvores derrubadas) e menos lixo ambiental.
Numa análise desapaixonada e isenta, o espaço
virtual e todos os recursos digitais não diferem dos ambientes físicos, dos
recintos sociais e vias públicas. Aqui e ali onde se davam e se dão as relações
sociais, as interações e conexões pessoais. Sejam estes espaços e arenas antes
e pós-internet.
Ao se trazer à baila tudo que se nos apresenta de
belo e feio, de bom e mau, do virtuoso e degradante, está a se falar dos
múltiplos comportamentos, das inclinações e gosto das pessoas. Tomando apenas
as redes sociais como partes do mundo das pessoas, elas se tornam apenas
vetores, veículos eficientes e céleres do caráter, das preferências, dos
valores e cultura de seus usuários. Todas as mídias e redes socais (facebook,
whatsapp, twitter) constituem em veículos os mais libertários e democráticos do
planeta. Basta comparar com o rádio, o telefone fixo e a televisão. O custo de
mensagens nestes veículos já os tornam inviáveis para as pessoas comuns. Todas
as mídias sociais são praticamente gratuitas.
Para quem quer que seja as redes socais representam
muros de exibições, praças de desfiles, outdoor de propagandas. Ferramentas
empregadas para o bem ou para o mal. Através delas cada um mostra suas
aptidões, suas habilidades, seus dotes morais ou culturais.
São agendas onde as pessoas apresentam o que têm.
Os atributos pessoais, o patrimônio cultural ou material. Entre esses as
plásticas realizadas, os tratamentos cosméticos , os implantes de silicone ou
PMMA – polimetilmetacrilato-, e outras estéticas de rejuvenescimento. Até os
riscos de complicações, de morte, as
consequências éticas e criminais de profissionais nada habilitados nesses
procedimentos. Tudo ganha visibilidade pelas redes sociais.
Uma
nova realidade tem-se tornado visível com
o advento das ferramentas virtuais, a perda da intimidade. Foram
abolidas, portanto, a privacidade, o recato, o pudor (vergonha) e o
sigilo pessoal. O usuário almoça e posta, viaja e posta, namora e
posta, vai a praia e posta, faz plástica e posta, tira foto nu e
posta. Todos livres, leves e soltos. Primeiro
as Aparências, depois vem a Essência. Janeiro/2109
Amor
A SEMÂNTICA DO AMOR
O tempo! Ah, o tempo! Como ele passa e tudo se
transforma! Como essa variável cósmica tem a potência de re-ssignificar as
coisas! Variável cósmica? Meu admirável Einstein, minhas escusas se expressei
errado. Talvez uma constante cósmica. Ele passa retilíneo, faceiro e
indiferente com os humanos. Lá do olimpo, chronus foi mesmo implacável com os
humanos. Passageiros Somos. Somos todos passageiros pelo mutável universo. Pelo
nosso universo que já é demais, infinito universo. Muitos universos .
Estava em minha pausa para o ócio e para não
ficar na ociosidade veio-me a reflexão do efeito do tempo. Em tudo, nas coisas,
em nós, em nossos sentimentos, no re-ssignificado das palavras. A mudança de
valores. De valor? De valor. Pegue U$ 1000,00. No ano passado eles valiam 1000
dólares. Agora não vale mais. Novecentos? Oitocentos? Depende de
inflação. Até o custo do valor muda, o significado muda. Quer outro exemplo? O
amor.
Qual o preço do amor? Não se sabe. Ele costuma
valer muito. Costuma não valer nada. Ele deveria não custar nada. Ou será que
se compra amor? Quanto custa o amor? Depende do amor. Para isso criaram até o
plural para o amor. E essa história começa lá nos idos da Grécia e de Roma. O
Eros da Grécia, cupido de Roma.
O amor na era pós industrial. No tocante ao amor
conjugal. Tomemos o Brasil como foco dessas observações. Não difere das
culturas de muitos países. Talvez até com regras mais rígidas no tocante ao casamento.
Em fim do século XIX e início do século XX havia grande influência, senão uma
decisão absoluta dos pais, em escolher os cônjuges para os filhos. Sobretudo
quando era para se casar a filha; os pais escolhiam os pretendentes para
as filhas. Seria esse, um amor impositivo.? Será que se aprende a
amar? Nâo seria o amor um sentimento inato, imanente a cada ser vivente.
O homem ama, os animais amam.
Parte dessa falta de liberdade dos jovens nas
relações de namoros na escolha dos cônjuges e opção sexual ainda perdurou até
os anos 1960.Tal mudança e liberdade se dão no pós guerra (2a guerra
mundial), sobretudo nos movimentos de liberdade e mudança de estilo de vida,
revolução da juventude, rock holl , pílula anticoncepcional, movimento dos
hippies , Revolução dos jovens ,de maio
1968.
Amor! Ah, esse amor. Como ele se reverbera na
boca das pessoas, em toda forma de comunicação. Fica a sensação que ele está
agastado e cheio de fastio . É amor pra lá , amor pra cá . Como anda o amor ?
Na filosofia o amor é tratado à exaustão. Para
ele tem-se até uma terminologia específica. Em grego é referido como Eros. Daí
deriva o verbete erotismo, erótico. Eros é referido como a busca da beleza
ideal, a sublimidade, a harmonia, a perfeição. Na forma latinizada ou romana temos
o cupido. Têm-se ainda outras denominações como philia. O nome philia traz o
sentido de lealdade, do desejo de bem e da generosidade ao outro. O termo ágape
também refere-se ao amor. Seria o mútuo amor entre Deus e os homens; um
sentimento e cuidado intercambiáveis.
Trazendo o amor para nossa modernidade
ocidental. Quanto à simbologia. Os objetos mais populares continuam como a
maçã, o coração, os dedos das mãos fletidos num gesto do coração. A flecha
trespassada pelo coração, símbolo da ação do deus cupido. A flecha é como se o
pretendente capturasse os sentimentos e o coração da moça e vice-versa.
Mas, o tempo! O tempo e o capitalismo deram um
jeito de promover as mudanças no jeito de amar-se e de amar. Com isto a
ressignificação para o amor. Subliminar e dissimuladamente a sociedade deu
novos rumos e novo status ao amor. Se em idos tempos, as famílias, os pais eram
como despachantes na arrumação dos casamentos para os filhos, hoje, nem tanto
deles mais tem-se necessitado para tais empreendimentos.
E os novos símbolos? Valem muito para as
meninas, para as jovens. Uma ótima condição socio-profissional do namorado e
pretendente, salários avantajados, fama, celebridade ainda que instantânea.
Cifrão ($), midiatismo, visibilidade televisiva. Sãos estes os novos símbolos
do amor moderno. Tempo! o tempo! São tempos modernos. JANEIRO - 2019
Tirania de gente
A TIRANIA DAS RELAÇÕES DE TODOS NÓS
JOAO JOAQUIM
O
tema aqui
será uma viagem, uma digressão sobre a
vocação ou inclinação do homem pela violência, nas suas mais variadas
formas,
pela tendência de agressividade que está latente dentro de cada um. Ou
em outros termos pela opressão, pela
exploração, escravidão e dominação do outro. E esse outro está contido
num
largo espectro de pessoas, indo desde o indivíduo estranho, um
subalterno, um empregado, um colega de trabalho, um parente; não
importa o tipo de vínculo social estabelecido. Se buscarmos
todas as referências da humanidade, lá estão consignados os eternos
embates. Os
conflitos, a exploração, a opressão, os casos de violência, de injúrias e
assassinatos, pelos motivos os mais torpes e indignos. Entre esses
motivos temos como exemplo, a inveja, o ciúme; ou o simples desejo de
maltratar e busca de dominação do outro.
Na tradição
bíblica, temos lá a narrativa da família adâmica. Adão e Eva tiveram dois
filhos, Caim e Abel. Ambos dedicados a ação de pastoreio. Num desentendimento
banal, Caim comete o 1º assassinato da história, matando o próprio irmão. O primeiro
fratricida descrito na trajetória do homem, em sua conduta de violência.
Ao revisitar
a história e evolução humana elas estão repletas de violências e mais violências,
de torturas, de tiranias, de morte por razões de todos os matizes. São os
motivos passionais, por posses de territórios, por conquistas de outras nações,
por ciúmes e invejas, por motivos religiosos, por simples domínio territorial,
por simplesmente querer atingir os objetivos através da aniquilação e morte do
concorrente e rival. Há uma diversidade de violência.
Buscando exemplos na
seara e domínio das religiões. Se revelam os casos mais esdrúxulos e mais incompreensíveis
quando o assunto é o sentimento da violência praticado contra o outro. Só porque
ele pensa, ele professa e pratica uma religião diversa de quem o oprime,
persegue, agride e mata. Se revela um fenômeno que tem a idade do
próprio homem quando se busca os registros de cada seita, cada denominação
religiosa, cada expressão de fé.
Olhemos
a
história das cruzadas, da perseguição dos cristãos por muçulmanos e
vice-versa,
o massacre da noite de São Bartolomeu (1572) em que mais de 1000
huguenotes
(protestantes) foram mortos pelas forças leais ao governo francês. Tudo
isto
antes da reforma de Martinho Lutero, na Alemanha. Nenhum exemplo maior
de intolerância,
violência e opressão existe na história do que os praticados pela
inquisão da
igreja católica. Eram atribuições do tribunal do santo ofício. Eram
violentas repressões
contra heresias, tanto de natureza religiosa como as contra judeus e
muçulmanos, bem como as de natureza científica. Toda orientação ou
descoberta científica
que contrariavam as “verdades” ou dogmas da igreja católica e seus
líderes estaria sujeita a um processo canônico (direito canônico da
igreja católico), a um
julgamento sumário pelo tribunal do santo ofício e a pena de morte na
fogueira.
Foi o que ocorreu com Giordano Bruno (1600). Ele era teólogo, escritor e
filósofo. Giordano foi acusado de heresias por apontar erros nas
doutrinas da igreja
e contrariar “as verdades” impostas pelos líderes do catolicismo. Ele
foi
processado, perseguido e por não renunciar às suas convicções religiosas
e
científicas foi queimado vivo.
O mesmo
destino quase teve Galileu Galilei (1564-1642). Ele defendeu sua descoberta do
sol como o centro do universo, o heliocentrismo , em oposição ao que acreditava
a igreja no geocentrismo, a terra como o centro do universo. Ele foi preso e
julgado. Só não foi para a fogueira porque se amarelou, teve que negar
publicamente a sua teoria e foi poupado de virar cinzas. Há quem afirme que ao
contrário de Sócrates e Giordano Bruno, ele foi um fraco. E assim evolui toda
forma e natureza de violência, tendo sempre o ser humano como protagonista dessa ação.
O que
parece conclusivo é que o homem traz uma semente, um germe, um fermento de ódio
e violência dentro de si . Seja no cenário ideológico, no político, no
religioso. Ninguém está a salvo da sanha e dos instintos agressores e
perseguidores daqueles que acham que existem apenas as verdades de um lado, de
algumas cabeças pensantes. Não há respeito e aceitação da diversidade, da
autonomia e do direito do livre pensar e expressar do outro.
Um cenário onde
vicejam as cenas de violência se encontra nas torcidas de futebol. As expressões
e atitudes de violência dos estádios e arenas de futebol nos lembram o que se
praticava no antigo coliseu de Roma. Naqueles idos e negros tempos os
torcedores entravam em delírio quando prisioneiros e inimigos políticos eram
jogados para serem devorados pelas feras mais perigosas como tigres e leões.
Nos
tempos
modernos os confrontos entre torcedores de futebol fazem o mesmo que
faziam os
gladiadores do coliseu romano. Brigas, violência de toda ordem,
aniquilação e
morte dos rivais. Pelo banal motivo da vítima torcer e simpatizar pelo
time rival do agressor. Existe uma razão mais fútil do que esta para
matar uma pessoa ? Novembro/2018.
ALUGAM-SE PESSOAS
ALUGUEL DE PESSOAS
João Joaquim
Quando se fala em aluguel ou locação vem à mente
de qualquer pessoa aquela tomada de empréstimo de um objeto, um bem, um imóvel,
um animal para cavalgadura e outros serviços. E até mesmo os próprios serviços.
Nos tempos modernos, de tantas mudanças sociais, das relações humanas mais
distensíveis surgiu um novo tipo de aluguel. O de pessoas. Com um diferencial
nesta nova modalidade, em geral não se paga nada pela locação. Esse novo
inquilino pertence ao grupo dos folgados ou exploradores de gente. Geralmente
esse novo locatário é um parente (a), um classificado amigo próximo ou
contraparente ou aderente. Não importa.
Essa relação em geral se estabelece, não de
forma um tanto sub-reptícia ou de chofre, mas à moda paulatina e dissimulada.
Os meios empregados são vários. Indo desde a posse de bens e objetos e dinheiro
do outro até a ocupação do tempo.
O aluguel da pessoa pode se dar na forma
abstrata. Isto é : nem sempre de forma substancial ou material . Pode ser via celular ou pelas
redes sociais. E a vítima ou locador vai se enredando, caindo nas graças
ou rede desse novo inquilino . Nessa modalidade de aluguel, a vítima ou locador
vai dispondo de seu tempo, minutos, horas a fio por conta de quem aluga a pessoa.
Era uma vez, já faz duas décadas, eu ouvi um
antigo professor meu dar uma entrevista. Coisa rara em suas aparições.
Chamava-se Joseph Minder (1940-2010). Pela raridade tal entrevista ficou em
minha memória permanente. Minder era um profundo estudioso de sociologia,
psicologia do comportamento humano e filosofia. Muito centrado, introspectivo,
cenho sempre severo, pouco riso e fala escandida e serena. Reverberava um misto
de admiração e respeito. Suas frases e opiniões, quando proferidas soavam como
diretrizes de vida. Nessa fortuita e inopinada entrevista o professor Joseph,
como era arguido falava sobre a exploração do outro. Uma expressão por ele
empregada ficou inscrita em minha mente. “O aluguel do outro”. Locução que fez
parte da temática, a exploração do outro.
Ao se falar na questão do exploração
socioeconômica, poder-se-ia buscar as teorias já bem conhecidas do comunismo,
do capitalismo, das teses de Karl Marx. Sua obra mais conhecida é o Capital.
Soa estranho! Mas, o título é esse mesmo; da relação entre capitalismo,
poder e proletariado.
Nem tampouco quero falar da escravidão social ,
naqueles moldes mais hediondos, quando os africanos negros eram tratados como
animais. Digo mal porque eram tratados ou maltratados pior do que animais,
seviciados, torturados e mortos. E vendidos como mercadorias. Aquela escravidão
horrenda, medonha, terrificante foi abolida no Brasil, em 1888. Decreto esse
assinado pela princesa Izabel, a filha de Dom Pedro II, que estava em viagem ,
fora do País.
Hoje, impera no Brasil e no mundo a chamada
escravidão dissimulada, de brancos e negros. Não importa a etnia. Temo-la de
duas categorias: a informal e a formal ou legal. Na categoria informal, a
escravidão se dá no mesmo estilo de tráfico negreiro. O trabalho é do mesmo
modo explorado. Em geral o trabalhador braçal é cooptado por um agenciador,
levado para os campos agropastoris e lá mantido como em trabalhos forçados. Sem
as mínimas condições sanitárias ou tratamento digno, sem salário ou direitos
trabalhistas. Já na chamada escravidão formal, o operário, seja ele rural ou urbano
(construção civil, infraestrutura) tem até carteira de trabalho assinada,
direito de atendimento pelo SUS, etc.
Todavia, se ele adoecer tem o risco de morrer
nas filas dos hospitais públicos, os filhos estudam nas piores escolas
públicas. Ao final de cada mês, o salário mal dá para o aluguel de um barracão
ou casebre popular. Depois de 35 anos trabalhados, o proletário, já todo
alquebrado, esclerótico e debilitado vai receber um mísero salário mínimo. Isto
se o trabalhador sobreviver a esse saco de injúrias. Talvez os braçais da
escravidão negreira tivessem melhor qualidade de vida. Ao menos o sujeito comia
muita feijoada, garapa, melado e rapadura.
Conforme preleção do professor Joseph, existe no
íntimo de muitas pessoas uma semente desejosa de explorar o outro em todas as
suas potencialidades e força de trabalho. Em um outro polo, existe também uma
legião de pessoas com uma predisposição em ser exploradas, sugadas, alugadas e
maltratadas.
Há um livreto, uma obra, pequena em volume, mas
magnânima nesse sentido. Chama-se o discurso sobre a servidão voluntária, de
Éttienne de La Boétie ( 1530-1563) . Nessa monumental tese Éttiene fala da
relação que se estabelece entre o tirano e os súditos ou tiranizados. Tal
relação de explorador e explorados vai se fazendo em cadeia num efeito dominó.
O mais curioso é como tal ligação se dá nas cenas e rotinas, as mais comezinhas
e ordinárias das pessoas. No caso de um tirano de Estado. Ele tem um séquito de
pessoas que o assessoram. Ministros, chefes disso e daquilo. Estes , por sua
vez, vao tiranizando e alugando os subalternos, os de hierarquia menor.
Nesse sentido, basta que cada um olhe para o seu
círculo de “amigos”, colegas, contatos os mais variados. Esse entorno está
representado por parentes, contraparentes, aderentes e repelentes. São os
manos, os cunhados, os concunhados e outros tais. Como se encontram esses tais
fidagais nos meios familiares!
Assim, ninguém escapa a esses alugadores e
alugadoras. São exploradores (as) dos parentes classificados como bonzinhos,
solidários, gente boa. Muitos dos, de fato, aqui generosos e honestos são
manipulados, alugados e sugados em sua energia, em seus préstimos pessoais, em
suas horas de direito ao descanso e ao ócio.
Na lábia e aliciamento desses indesejados
parentes e contraparentes vão ainda objetos e utensílios nunca devolvidos,
empréstimos de dinheiro nunca pagos e outros mimos e favores jamais retribuídos
na mesma intensidade.
Por isso concluo que a melhor resposta contra
esses aluguéis e exploração pessoal; o melhor troco ou revindita a essas
insolentes pessoas é um contundente e penetrante. Não. Se insistirem, não e
não!. Dezembro/ 2108
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